Análise de 422 publicações revela descompasso entre volume de produção e eficiência de alcance no jornalismo digital angolano.
POC NOTÍCIAS | Onks Growth Lab (Diego Seguro) | geral@pocnoticias.ao | Foto: DR
As páginas noticiosas angolanas estão a produzir muito conteúdo, mas com pouca eficiência. A conclusão é de um estudo exclusivo da Onks Growth Lab, que analisou 422 publicações de 50 páginas noticiosas e identificou um desfasamento acentuado entre o volume de produção e o retorno em interacções. Segundo os dados, 68% de todo o conteúdo (289 posts) concentra-se em apenas quatro categorias, enquanto temas com maior capacidade de gerar audiência permanecem subexplorados.
Tecnologia e Religião superam média de engajamento em 42% com menos de 10% do volume
O estudo cruzou os dados das publicações com métricas de 4,5 milhões de utilizadores activos do Facebook, plataforma dominante no consumo de notícias em Angola. As categorias Tecnologia, Religião e Economia, embora representem apenas 9,47% do volume total (168 posts), registam um engajamento médio por publicação 42% superior à média geral.
Engajamento médio por categoria (interacções/post):
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Tecnologia: 1.029 (35 publicações)
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Sociedade: 1.110 (182 publicações)
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Política: 1.114 (257 publicações)
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Internacional: 1.143 (279 publicações)
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Religião: 765 (55 publicações)
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Segurança: 764 (140 publicações)
Em contraste, a categoria Cultura, apesar de publicar 150 posts (9,35%), obtém apenas 390 interacções médias- um desempenho 164% inferior ao de Tecnologia, que publica quatro vezes menos.
Cultura publica 329% mais, mas tem uma eficiência cinco vezes inferior à Tecnologia
A comparação entre Cultura e Tecnologia ilustra o défice de eficiência editorial.
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Cultura: 150 posts → 58.523 interacções (4,57%)
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Tecnologia: 35 posts → 36.029 interacções (2,81%)
Apesar de publicar 329% mais, Cultura gera apenas 62% mais engajamento total, o que se traduz numa eficiência cinco vezes inferior.
“Os números demonstram uma desconexão crítica entre esforço editorial e retorno de audiência”, afirma Diego Seguro, CEO da Onks Growth Lab. “Páginas angolanas produzem grande volume em categorias de baixo retorno, enquanto nichos estratégicos ficam praticamente abandonados.”
Educação, Saúde e Ambiente: 8% das publicações, mas apenas 2,19% do engajamento
Três categorias com alta relevância social estão entre as mais negligenciadas:
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Educação: 57 posts → 9.813 interacções (0,77%)
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Saúde: 39 posts → 10.001 interacções (0,78%)
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Ambiente: 42 posts → 8.172 interacções (0,64%)
Juntas, representam apenas 2,19% do engajamento total, apesar da sua importância para a Agenda 2030 e para as prioridades do Executivo.
Índice de Eficiência Editorial expõe desequilíbrios
A análise introduz o Índice de Eficiência Editorial (IEE), que avalia a relação entre o esforço de publicação e o engajamento gerado.
Categorias com IEE positivo:
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Internacional: +43% (24,89% engajamento vs 17,39% volume)
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Política: +39% (22,35% vs 16,02%)
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Sociedade: +39% (15,76% vs 11,35%)
Categorias com IEE negativo:
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Cultura: -51%
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Entretenimento: -65%
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Educação: -78%
Páginas independentes têm 3,7 vezes mais engajamento que estatais
Ao cruzar os dados com a natureza das páginas observadas — de plataformas independentes como Angola News, Club-K e Novo Jornal a meios estatais como TPA, Angop e Jornal de Angola — o estudo revela que:
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Páginas independentes registam um engajamento médio 3,7 vezes superior ao das páginas estatais, mesmo quando publicam sobre categorias idênticas.
Segundo Diego Seguro, “páginas estatais publicam com frequência similar, mas o conteúdo não ressoa. Falta proximidade, tom conversacional e capacidade de gerar debate”.
Metodologia e limitações
O estudo analisou 422 publicações feitas entre Janeiro e Novembro de 2025, somando 1.280.168 interacções. Foram incluídas páginas independentes, estatais, religiosas e agências internacionais.
Limitação reconhecida: o Facebook não disponibiliza dados que permitam distinguir alcance orgânico de alcance pago.
Recomendações: reduzir volume improdutivo e investir em nichos estratégicos
Entre as recomendações, o relatório sugere:
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Reduzir a produção em categorias de baixo desempenho, como Cultura e Entretenimento.
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Reforçar a aposta em Educação, Saúde e Ambiente.
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Escalar conteúdos de Tecnologia, que mostram maior retorno com baixo volume.
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Apostar na especialização editorial, já que páginas focadas em 3–4 categorias têm um engajamento 58% superior às generalistas.
A Onks Growth Lab planeia expandir a análise para Instagram e TikTok no primeiro trimestre de 2026, visando compreender as diferenças de consumo de notícias por plataforma e faixa etária.
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