POC NOTÍCIAS | Por: Jornal de Economia e Finanças | geral@pocnoticias.ao | Foto: DR
Em Julho de 2020, Chelsea Reciado decidiu ajudar as mulheres a empreender. Enquanto a pandemia fechava portas em Angola e no mundo, a jovem abria uma janela única de oportunidades para microempresárias, criando o projecto “Mulheres com Pulungunza”. Dois anos depois, o programa de formação em empreendedorismo beneficiou já 46 angolanas.
Em 2020, o coronavírus tomou o mundo de surpresa e pôs projectos e vidas em suspenso. Em Angola, onde a economia informal e os micronegócios geridos por mulheres sustentam grande parte das famílias, o cenário não era animador.
“Era um momento crítico, todo o mundo se deteve e as pessoas não sabiam o que fazer”, relembra Chelsea Reciado. Enquanto muitos se recluíam e tentavam adaptar-se “à nova normalidade”, a jovem, na altura com 25 anos, encheu-se de coragem e remou contra a corrente. “Os pequenos negócios estavam em risco e foi nesse contexto que tive a ideia de criar um projecto que ajudasse as mulheres a gerar novas oportunidades”, resume.
Assim nascia “Mulheres com Pulungunza”. “Basicamente, é um projecto social que empodera mulheres através do conhecimento. Oferecemos às participantes um programa de mentoria de três meses em empreendedorismo, marketing, influenciador digital, psicologia, advocacia, finanças e oratória”, enumera a criadora da iniciativa. No final da formação, “as participantes fazem uma exposição dos seus negócios com base no que aprenderam e atribuímos um prémio à melhor proposta.”
Nesse difícil 2020, e “sem apoios”, Chelsea Reciado não perdeu tempo e arrancou com as mentorias via online, ciente do desafio que seria o acesso limitado das participantes à internet. “Rapidamente me apercebi que precisávamos de patrocínios para encontrar um espaço físico onde nos pudéssemos reunir”, conta.
Apoio e credibilidade
As portas a que a jovem bateu foram muitas. Até que uma, em especial, se abriu. “Quando apresentei o projecto à Tigra, bastaram cinco minutos para abraçarem o projecto. Viram que ‘Mulheres com Pulungunza’ estava bem estruturado e que tinha um potencial transformador para as mulheres que passavam um momento complicado devido à pandemia”, recorda.
A partir de então, tudo melhorou. Em 2020, a marca começou a dar apoios pontuais. Um ano depois, em 2021, a Tigra tornou-se patrocinadora oficial da iniciativa e cumpriu o desejo urgente de um lugar para as “Mulheres com Pulungunza” se reunirem. Todos os sábados, empreendedoras e mentoras levavam a cabo as sessões de formação numa sala na sede da Refriango, no Palanca.
Também por essa altura, “a Tigra começou a dar bastante visibilidade ao projecto nas redes sociais”, conferindo-lhe “grande credibilidade”, e promoveu a participação de “mulheres como Karina Barbosa ou Vanda Pedro nas sessões de encerramento dos programas de mentorias, onde partilhavam com as formandas histórias de vida, dicas sobre como investir, como encontrar bons sócios, como gerir a carteira de fornecedores ou conselhos de como converter-se em líderes”.
Já em meados de 2022, na terceira e mais recente edição do “Mulheres com Pulungunza”, o apoio financeiro da Tigra foi fundamental para criar material de divulgação e convidar palestrantes. Um convénio entre a marca e a Mediateca Zé Du deu um novo lugar para o projecto. “Mulheres com Pulungunza” encontrou também um espaço importante no site Escola dos Tais, plataforma onde a Tigra congrega os programas com que apoia e valoriza os jovens angolanos. A iniciativa de Chelsea Reciado contou ainda com o apoio da patrocinadora oficial na estratégia de comunicação, com a cedência de espaço nos outdoors digitais, produção de material gráfico e divulgação nos meios de comunicação social. A Tigra atribuiu também um prémio de 500 mil kwanzas à vencedora do programa de mentorias deste ano.
“Mas não se ficou por aqui!”, exclama Chelsea Reciado. “Algumas empreendedoras iniciaram projectos independentes com a Tigra e outras estiveram em destaque nos Prémios Tigra Nova Garra”: Iliandra Baptista, júri na categoria “Meio Ambiente” nas duas edições do prémio (2021 e 2022); e a ambientalista Diana Lima, nomeada para esta mesma categoria no ano passado.
“Num país como Angola, é muito complicado que alguém aposte em iniciativas deste carácter. Mas a Tigra confiou em mim desde o início e nas mulheres beneficiadas, pessoas sem status social e com ideias nas quais poucos acreditam. A Tigra sempre está ao nosso lado, sem qualquer interferência na nossa visão do projecto, apesar de ser financiadora, e isso é inestimável”, considera Chelsea Reciado.
O desafio da sustentabilidade
Hoje, “Mulheres com Pulungunza” consolidou-se. Nas três edições já concretizadas (2020, 2021 e 2022), 46 mulheres aprenderam como empreender em negócios tão diferentes como estilismo, acessórios ecológicos ou produção de manteiga de origem não animal, com frutas. Um grupo de 14 mentoras, “mulheres normais extraordinárias”, como descreve Chelsea Reciado, dão vida ao programa de capacitação. “Impactar a vida destas mulheres para que as suas vozes sejam ampliadas através do conhecimento” continua a ser o leitmotiv da iniciativa.
A impulsionadora do projecto pensa já nos próximos passos. Além de desejar um espaço próprio, gostaria de “contar com a presença física de mulheres de outras províncias, porque a participação por internet não funciona a longo prazo”.
Mas é a sustentabilidade de “Mulheres com Pulungunza” que mais a preocupa. Com forte sentido de responsabilidade social, Chelsea Reciado defende “a urgência de fazer o seguimento dos projectos das participantes”. “Sabemos que o empreendedorismo depende de factores económicos, pessoais, sociais, entre outros. Por isso queremos acompanhar as mulheres no período pós-mentoria, para garantir que as ideias que estruturam nas sessões de formação sejam um sucesso no mundo real”.