O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu hoje em Luanda a urgência de um novo modelo de governação global assente numa “multipolaridade interligada”, alertando que o actual contexto internacional pode agravar divisões e desigualdades se não for acompanhado por instituições multilaterais fortes e inclusivas. Guterres discursou na sessão de abertura da 7.ª Cimeira União Africana–União Europeia.
POC NOTÍCIAS | DOMINGOS BARROS | EMANUEL DOMINGOS | geral@pocnoticias.ao | Foto: DR
Na sua intervenção, o Secretário-Geral recordou o simbolismo de regressar a Angola às portas do 50.º aniversário da independência, sublinhando que acompanhou, há 25 anos, o primeiro encontro da então Organização da Unidade Africana. Para Guterres, este fórum mantém hoje um papel crucial na construção de um sistema internacional mais justo.
António Guterres apontou o desenvolvimento sustentável como a primeira área onde África e Europa podem desempenhar um papel decisivo. Criticou a arquitectura financeira internacional, que classificou como “profundamente injusta e ineficaz”, por favorecer de forma desproporcionada os países mais ricos. Defendeu reformas urgentes que incluam o aumento da capacidade dos bancos multilaterais de desenvolvimento, o combate ao ciclo de endividamento e uma maior representação dos países africanos nas principais instituições financeiras.
A acção climática foi o segundo eixo destacado por Guterres. O dirigente das Nações Unidas lembrou que África detém vastos recursos solares, eólicos e minerais críticos, cuja procura global deverá triplicar até 2030, e alertou que esses recursos devem constituir uma oportunidade real para o desenvolvimento africano.
Para que tal aconteça, sublinhou a necessidade de Estados fortes, instituições resilientes e políticas que garantam que os benefícios económicos da transição energética se traduzem em progresso para as populações africanas, e não em novos ciclos de dependência.
O terceiro ponto do discurso abordou a paz e a segurança internacionais. Guterres classificou a guerra na Ucrânia como “o pior conflito europeu de uma geração” e alertou para as consequências devastadoras da actual crise em Gaza. Mencionou ainda as situações críticas no Sudão, Sudão do Sul, Somália, Líbia e Mali.
Defendeu a implementação do Pacto para o Futuro, aprovado no ano passado, que prevê assentos permanentes para África no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como forma de corrigir uma “injustiça histórica profunda”. Reiterou igualmente o apelo para um financiamento sustentável, flexível e previsível das operações de paz da União Africana, conforme previsto na Resolução 2719.
Encerrando o discurso, António Guterres reforçou que os grandes desafios globais, desde as desigualdades económicas às crises de segurança e ao impacto das alterações climáticas só podem ser enfrentados através do multilateralismo. Apelou para que África e Europa permaneçam unidas na defesa de um sistema internacional mais equilibrado e inclusivo.
“No meio da turbulência global, é possível inaugurar uma nova era de esperança, de unidade, de equidade e de paz”, concluiu o Secretário-Geral da ONU.
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