O ano de 2023 ficou marcado por uma desafiante conjuntura internacional, com impactos decorrentes dos conflitos geopolíticos e pela redução do preço do petróleo. Não obstante, os Bancos angolanos registaram um aumento nos resultados líquidos, conseguiram manter níveis de solvabilidade adequados e registaram um crescimento no crédito a cliente e depósitos captados.
Na 18ª edição do Banca em Análise, realizada essa manhã, em Luanda, ficou patente uma evolução gradual, mas sustentada, da utilização de meios de pagamento electrónicos, fruto da digitalização em curso do sector. No período em análise registou-se um aumento de 10,5% no número de Cartões Multicaixa Emitidos e de 11,1% no número de Caixas Automáticas (ATM), com as transacções em TPA a aumentarem 25% no mesmo período. O Multicaixa Express tem vindo a reforçar a sua popularidade com um crescimento próximo de 54,9% em 2023. O comércio electrónico, que tem vindo a ganhar expressão no mercado nacional, registou um crescimento de 48% nas transacções totais efectuadas.
Sobre os desafios futuros para a banca nacional, José Barata, Presidente da Deloitte Angola, lembra que “o sector bancário depara-se com um cenário desafiante, de onde se destaca a redução acentuada das receitas provenientes de operações com o exterior, menores retornos em investimentos em títulos de dívida pública e perdas na carteira de crédito o que, inevitavelmente, irá requerer uma adaptação dos seus modelos de negócio e das suas estratégias.”
Em 2023 registou-se um aumento do crédito líquido concedido a clientes de cerca de 40%. Por sua vez, a qualidade do crédito, o rácio de cobertura das perdas para imparidade reduziu de 22% para 19% entre 2022 e 2023, com especial destaque para a descida na cobertura por imparidade dos créditos em incumprimento (Estágio 3) de 54%, em 2022, para cerca de 47% no período em análise.
Adicionalmente, o rácio de crédito vencido, de acordo com as Demonstrações Financeiras em análise, registou um aumento marginal face a 2022, tendo-se cifrado em 20,8% em 2023, face a 20,6% verificado no período homólogo. Por outro lado, o total do crédito vencido sobre o total do activo dos Bancos, teve um crescimento de 20 pontos base, passando de cerca de 5% em 2022 para 5,2% em 2023. Neste contexto, os Bancos devem continuar a efectuar um esforço adicional para reforçar as imparidades para crédito, uma vez que a cobertura tem vindo a reduzir nos últimos anos.
Por seu turno, o volume de depósitos registou um aumento próximo de 31% face a 2022, ainda que inferior ao aumento da massa monetária, que registou uma variação de 37,8% em 2023, o que se traduz no aumento de numerário em poder do público, instituições e empresas que não foi capturado pelo sector bancário.
O produto bancário aumentou em 48%, sendo que os resultados líquidos registaram uma melhoria significativa, com um aumento de 65,8% face a 2022. Este aumento é explicado principalmente pelo crescimento de 261% dos resultados cambiais que totalizaram 452 mil milhões de kwanzas, decorrente da desvalorização cambial do Kwanza face ao Euro e ao Dólar norte-americano, bem como pelo crescimento dos Resultados de activos e passivos financeiros avaliados ao justo valor através de resultados, em torno dos 180 mil milhões de kwanzas face ao período homólogo resultante da mais-valia gerada pela alienação de dívida pública Angolana efectuada por alguns Bancos.
Relativamente ao número de balcões físicos, registou-se um decréscimo de 1 461 balcões em 2022 para 1 426 em 2023. Este facto deve-se ao processo de digitalização dos serviços financeiros em curso e a reorganização da rede comercial levada a cabo por vários bancos. Contrariamente à diminuição da rede física dos Bancos em Angola, foi registado um crescimento de 81% no número de Agentes Bancários em território nacional, passando de 366 agentes em 2022 para 665 agentes em 2023, de acordo com os dados divulgados pelo Banco Nacional de Angola.