A iEngenharia realiza, este mês, um evento que pretende aproximar as engenharias das crianças, jovens e da sociedade angolana em geral. Em entrevista ao POC Notícias, o Engenheiro e Director de Intercâmbio e Novos Negócios da iEngenharia, Samuel Carreira explica as motivações, objectivos e impacto do BootCamp iEngenharia.
ENTREVISTA | ANA ATALMIRA | FOTO: DR
O que motivou a realização do BootCamp iEngenharia e qual é a importância deste evento para o futuro das engenharias em Angola?
O BootCamp iEngenharia nasceu da necessidade de contribuir para a criação de um ambiente harmonioso entre engenheiros angolanos e estrangeiros, despertar vocações nas novas gerações e reforçar o papel estratégico da engenharia no desenvolvimento do país. A falta de reconhecimento profissional, o distanciamento entre gerações e a ausência de uma cultura técnica nas escolas são desafios que exigem uma resposta estruturada e inovadora, e o BootCamp propõe-se a ser parte dessa resposta.
Mais do que um evento, o BootCamp é uma plataforma de inspiração, capacitação e conexão. Ao reunir estudantes, profissionais, empresas e instituições, promove o intercâmbio de conhecimento, estimula o empreendedorismo e aproxima a engenharia da sociedade. O seu impacto projeta-se no futuro, ao formar uma geração mais consciente, preparada e comprometida com a construção de um país mais sustentável, tecnológico e justo.
De que forma o BootCamp pretende despertar o interesse das crianças e dos jovens pela área da engenharia?
Através de uma abordagem lúdica, interactiva e inspiradora. Com actividades práticas, experiências tecnológicas, desafios de construção, demonstrações científicas e contacto com engenheiros reais, mostramos que a engenharia é acessível, útil e divertida, e que qualquer criança ou jovem pode fazer parte deste universo.
Criámos também personagens educativas, como a pequena engenheira Nkusa, que contam histórias próximas da realidade angolana. Este storytelling desperta identificação emocional, sobretudo entre meninas e meninos em situação de vulnerabilidade, incentivando-os a sonhar alto e a ver na engenharia uma via concreta de transformação pessoal e colectiva.
O evento apresenta a engenharia como motor de desenvolvimento, criatividade e inspiração. Na prática, como será transmitida essa mensagem ao longo dos dois dias do BootCamp?
Durante os dois dias, teremos workshops práticos, exposições de projectos, palestras motivacionais e actividades interactivas. As crianças e jovens terão contacto com experiências reais de construção, tecnologia e inovação, percebendo, de forma concreta, como a engenharia impacta o seu quotidiano.
A presença da personagem Nkusa, bem como a integração de jogos com propósito educativo, ajudará a transmitir valores de superação, inteligência e cidadania. Queremos que todos sintam que a engenharia é uma ferramenta para transformar Angola.
Qual foi o investimento necessário para a concretização desta iniciativa e que parceiros tornaram possível esta realização?
O evento implicou um investimento considerável, que inclui logística, produção de materiais educativos, montagem de stands, contratação de serviços técnicos, segurança e comunicação. O orçamento foi cuidadosamente planeado para garantir qualidade, inclusão e impacto social.
Destacamos o apoio institucional e patrocínio de várias entidades, com destaque para o Palácio de Ferro, co-organizador do evento, e o Colégio Angolano de Talatona, nosso parceiro institucional. Contamos ainda com os seguintes patrocinadores: EngConsult, OMUENHO, TCUL, Project Insight, Tecmicro, e os parceiros Upangue, Kandengues Cientistas, Causa-Efeito, Edaco, Work Tape, Cefoprof, Instituto Superior Politécnico Ndunduma e Plural Editores.
Que impactos económicos e sociais esperam alcançar com esta edição do BootCamp, em termos de número de participantes, oportunidades criadas ou resultados a médio prazo?
Pretendemos impactar mais de 600 participantes, inspirando jovens para as engenharias e valorizando os profissionais do sector. Ao promover inovação, empreendedorismo e inclusão, o evento estimula a economia local e cria oportunidades reais de crescimento.
A médio prazo, queremos fortalecer o ecossistema da engenharia em Angola, incentivando uma geração mais preparada. A longo prazo, acreditamos na formação de engenheiros mais comprometidos, competentes e capazes de dar respostas aos desafios do país.
Que actividades estão previstas no programa e como estão a ser adaptadas para responder às diferentes faixas etárias envolvidas?
O BootCamp oferece uma programação diversificada e adaptada: oficinas práticas e jogos educativos para crianças, workshops e desafios tecnológicos para jovens, palestras e exposições de projectos para estudantes e profissionais. Cada actividade foi concebida com metodologia e linguagem ajustadas ao público-alvo, garantindo participação inclusiva e efectiva. A idade mínima de participação é de 8 anos.
Que análise faz do futuro da engenharia em Angola? Quais são os principais desafios do Governo neste sector?
A engenharia em Angola tem um papel vital no desenvolvimento nacional. Contudo, enfrenta desafios relevantes: melhoria da formação técnica e superior, valorização da indústria nacional e maior transparência na execução de obras públicas. Com os investimentos certos, a engenharia pode gerar empregos qualificados, dinamizar a economia, fortalecer infra-estruturas e reduzir a dependência do petróleo. O Governo deve apostar numa estratégia de longo prazo que integre educação, inovação e sustentabilidade.
Entrevista: Ana Atalmira / POC Notícias