É intrigante observar como algumas pessoas se esforçam por transmitir uma imagem de domínio da língua portuguesa, utilizando palavras complexas e termos eruditos, muitas vezes descontextualizados, nas suas conversas.
OPINIÃO | Por: Hélder Guimarães, Brand Management e Consultor de Comunicação |
Algumas dessas pessoas chegam a ser tão ridículas que, numa frase de três ou quatro palavras, conseguem usar quatro ou cinco termos complexos, dificultando a compreensão da mensagem para a maioria das pessoas.
No entanto, por detrás dessa fachada, quase sempre se escondem lacunas gritantes no conhecimento das regras básicas da gramática e no domínio real da língua portuguesa.
Esses “malabaristas da falsa retórica polida” criam uma aura ilusória de sofisticação, mas, quando lhes prestamos verdadeira atenção, revelam uma falta de substância e de autenticidade gritante.
Estão tão preocupados em impressionar os desavisados com uma linguagem carregada de palavras de “alto escalão”, que se esquecem do essencial: dominar o básico.
Não respeitam a concordância em género e número, têm muitas dificuldades em formar o plural de palavras terminadas em «L» e «Z», só para citar estes exemplos.
Dizem “a minha trás” em vez de “atrás de mim”, “você foste” em vez de “você foi”, “se você dizer” em vez de “se você disser”, e “se eu fazer” em vez de “se eu fizer”. Recordo-me de ter ouvido, de um destes malabaristas, a seguinte pérola: “eu tenho um carro ‘que na qual’ lhe dei para fazer táxi”.
Na ânsia de parecerem eloquentes, dizem muitos disparates. Usam uma linguagem carregada de expressões difíceis, mas, quando questionados sobre concordância verbal ou regência de verbos, já não sabem o que responder.
Se, na comunicação oral, já é possível identificar essas debilidades básicas, o cenário piora e muito quando os “malabaristas” passam para o campo da comunicação escrita.
É aí que, como dizem os brasileiros, “o bicho pega”. Ao escreverem, cometem outras atrocidades, como não saber distinguir o “mas” do “mais”, ou o “há” do “a”. Quanto à pontuação, o caso é ainda mais grave: colocam vírgulas onde não devem-aliás, é o que mais fazem-e, quando deviam colocá-las, como por exemplo para separar um vocativo, simplesmente esquecem-nas.
Esses malabaristas da falsa erudição procuram apenas parecer pertencer a um grupo social ao qual, na verdade, não pertencem. Estão mais preocupados em impressionar do que em comunicar de forma clara e eficaz.
Todos nós temos as nossas fragilidades com a língua portuguesa não seria coerente da minha parte negar que também tropeço, por vezes. Mas não posso deixar passar alguém que, independentemente do contexto, solta sempre expressões como “medidas profiláticas” em vez de “medidas preventivas” para parecer culto, e no entanto diz “seje”.
É preciso dizer a essas pessoas que a verdadeira eloquência não nasce do uso de palavras difíceis ou de frases rebuscadas, mas da capacidade de se expressar de forma clara, autêntica e respeitosa.
Em vez de tentarem impressionar com uma retórica artificial, deveriam valorizar a comunicação autêntica e transparente. A linguagem corrente que usamos no dia-a-dia, de forma informal e espontânea, com vocabulário simples e construções naturais, não diminui ninguém.
Mas, se optarem por comunicar com uma linguagem cuidada, recorrendo a um vocabulário mais requintado e a uma sintaxe elaborada, então devem estudar mais e corrigir esses erros básicos que destroem a credibilidade.
Devem ser coerentes e verdadeiros consigo mesmos. Caso contrário, a esses pseudointelectuais da falsa retórica polida, só posso chamá-los de “malabaristas linguísticos”.
Por: Hélder Guimarães | Brand Management e Consultor de Comunicação
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