Angola tem tudo para ser uma potência agrícola: terras férteis, água abundante e uma posição estratégica em África. Mas o verdadeiro desafio não está apenas em tractores ou fertilizantes. Está na liderança das empresas.
POC NOTÍCIAS | OPINIÃO | AUTOR: JOÃO DONO – Especialista em Gestão Estratégica e Liderança | FOTO: DR |

O agronegócio angolano precisa de líderes capazes de mobilizar pessoas, processos e tecnologia em torno de um propósito comum: produzir mais, produzir melhor e produzir de forma responsável. Liderar, neste sector, vai muito mais além de comandar. É inspirar camponeses a adoptarem a rotação de culturas ou sistemas de rega gota-a-gota, motivar equipas a trabalharem com disciplina e paixão, integrar a indústria e o retalho numa cadeia de valor sólida, educar comunidades e transformar realidades.
A experiência internacional mostra que os países que mais avançaram neste sector foram aqueles que souberam investir em liderança. Não apenas em tecnologia, mas em pessoas capazes de unir actores diferentes em torno de uma visão partilhada. O campo não é apenas um espaço de produção: é um motor de transformação social e económica. O agronegócio precisa desta visão e desta praticidade.
Os pequenos agricultores, com a formação adequada, podem tornar-se fornecedores consistentes para a indústria e para o mercado. Já os jovens estão perante uma grande oportunidade: compreender que a agricultura não é sinal de atraso, mas sim uma via de inovação, empreendedorismo e futuro. Este ecossistema permite, ainda, inspirar confiança junto de investidores e parceiros internacionais, demonstrando que Angola é capaz de aliar produtividade com sustentabilidade.
Num mundo cada vez mais atento às questões ambientais e sociais, a sustentabilidade deixou de ser uma opção e passou a ser um requisito básico. Investidores internacionais analisam não apenas a rentabilidade financeira de um projecto, mas também o seu impacto ambiental e social. Consumidores exigem produtos que respeitem o ambiente e que contem histórias de inclusão e responsabilidade.
Neste contexto, práticas como preservar o solo, poupar água, utilizar energias renováveis ou reduzir desperdícios não são custos adicionais: são investimentos que asseguram futuro e abrem portas a mercados exigentes. O mesmo se aplica ao capital humano. Valorizar trabalhadores, dar voz às comunidades locais e incluir mulheres e jovens nos processos produtivos não é apenas uma questão ética. É um factor que aumenta a produtividade, melhora a reputação das empresas e atrai novos financiamentos.
O continente africano é apontado como o celeiro do futuro. Estima-se que cerca de 60-65% das terras aráveis do mundo ainda não estejam cultivadas, o que eleva África ao centro da agenda global de segurança alimentar. Angola, pela sua vasta área territorial, solos férteis e localização estratégica para logística, dispõe de condições singulares para assumir um papel protagonista nesta transformação.
O Corredor do Lobito é um exemplo claro: pode tornar-se um eixo estratégico para escoar produção agrícola até mercados internacionais. Mas infra-estruturas só geram impacto quando são acompanhadas de liderança capaz de criar confiança, credibilidade e consistência.
Se Angola souber formar líderes capazes de transformar o potencial agrícola em resultados concretos, poderá não apenas garantir a sua própria segurança alimentar, mas também tornar-se referência continental em produção sustentável. Poderá influenciar a forma como África se posiciona perante o mundo, demonstrando que é possível aliar produtividade, inovação e responsabilidade social.
O futuro do agronegócio em Angola dependerá menos dos recursos naturais e mais da qualidade das pessoas que soubermos formar. Precisamos de líderes preparados, com visão estratégica e compromisso ético, que entendam que o verdadeiro desenvolvimento não acontece apenas com fertilizantes ou tractores, mas com ideias, processos e pessoas.
É tempo de assumir que liderança e sustentabilidade são duas faces da mesma moeda. Não haverá resultados duradouros sem respeito pelo ambiente, sem inclusão das comunidades e sem uma visão de longo prazo.
Por: João Dono / Especialista em Gestão Estratégica e Liderança / Autor do Livro Ecossistema de Liderança