Entidades bancárias estão a fazer resistência à estratégia do banco central que quer acabar com enchentes à boca dos balcões e até mesmo nos ATMs, bem como evitar perturbação ao mercado. Só no último fim de semana, sete dos 25 bancos que operam em Angola violaram expressamente a medida, com multicaixas sem dinheiro, nem papel.
POC Notícias: Moisés Tchipalavela (geral@pocnoticias.ao)
Foto: D.R
Passado um mês desde que o Banco Nacional de Angola (BNA) impôs novas normas para o bom funcionamento do mercado monetário, assim como uma melhor prestação de serviços nos ATMs, os bancos comerciais angolanos não acataram a medida do regulador. Parte considerável dos maiores bancos do mercado continuam a ‘abandonar’ os ATMs afectos aos seus balcões sem dinheiro ou papel nos dias de pagamento de salário e aos finais de semana, o que viola a regra.
Trata-se dos bancos de Fomento de Angola (BFA), Banco Millennium Atlântico (BMA), BIC e o Económico, além de vários pequenos bancos da praça, como constatou o POC-Notícias numa ronda efectuada no último final de semana em vários pontos da capital do país.
Na volta por Luanda, o POC-Notícias verificou o incumprimento expressivo por parte de sete dos 25 bancos comerciais das regras do banco central que mandam os bancos assegurarem que os seus Caixas Automáticos tenham uma taxa de disponibilização de numerário não inferior a 95%, durante as horas normais de expediente, no período de 25 de cada mês até ao dia 05 do mês seguinte, inclusive, aos sábados até ao meio-dia.
No terreno, a medida foi colocada de parte. Ou seja, os bancos receberam a directiva do banco central, mas, na prática, a situação mantém-se. É o caso do Banco de Fomento de Angola (BFA), BIC, Millennium Atlântico e Económico, que, em parte dos seus ATMs, para além da falta de dinheiro, também se assistiam à falta de papeis.
A ronda do POC-Notícias incidiu sobre as duas agências BFA da Avenida Hoji-Ya-Heda, ex-Avenida Brasil, e uma na Cônego Manuel das Neves, ao São Paulo, precisamente no Cine São Paulo, nas imediações do mercado com o mesmo nome, assim como em várias das periferias de Luanda.
Ao POC, vários clientes agastados com a situação manifestaram o descontentamento pelas irregularidades nas acções dos bancos comerciais, mesmo depois de o BNA ter determinado mudança na actuação desses operadores. “Não sei se os bancos fazem isso connosco porquê!”, questionou-se um cliente do maior banco em lucros do País, o BFA, entidade que tinha todos os ATMs da agência São Paulo fora de serviço, em clara violação às medidas do banco central.
Na mesma avenida Cônego Manuel das Neves, próximas às instalações da Rádio Ecclesia, também se podiam assistir à falta de dinheiro em ATMs de dois importantes bancos, nomeadamente o BPC e o Banco Millennium Atlântico (BMA).
No BPC, não havia dinheiro, nem papel. Já BMA, as pessoas só podiam consultar ou fazer pagamento de serviços, aproveitando o papel para impressão do comprovativo das transacções efectuadas.
Os casos foram subindo quanto mais o POC-Noticias circulava por Luanda. Também na Avenida da Comandante Valódia, onde o BMA tem uma ‘central’ de ATMs, assistiam-se a iguais irregularidades. O mesmo viu-se na agência do Banco Económico da mesma avenida.
Na Comandante Valódia, muitos clientes dos bancos Económico, Millennium Atlântico e BIC preferiram trocar os ATMs com as bombas de combustível ou cantinas e lojas de cidadão da África Ocidental, vulgarmente conhecidos como as ‘Cantinas’ do Mamadou’.
“Quando o BNA vem para corrigir as irregularidades do mercado financeiros, os bancos comerciais fazem o caminho inverso, ao desobedecerem esta directiva”
Passos do BNA para melhorar sistema de pagamento
Como forma de melhorar o sistema de pagamento angolano, o BNA tem vindo a aprovar um conjunto de medidas, como é o caso da oficialização do levantamento de somas por via dos Terminais de Pagamento Automáticos e o alargamento do funcionamento do horário na banca.
No caso do alargamento dos horários, os bancos estão obrigados a anunciar nos seus websites ou noutros canais de comunicação quais as agências é que ficam abertas e quais as que estão encerradas, de acordo com horários por estes definidos, uma estratégia que surge como forma de se acabar com as intermináveis filas e enchentes à boca dos balcões, que se assistem nos últimos tempos, sobretudo por altura de pagamentos de salários.
O POC-Noticias consultou os gabinetes de comunicação dos bancos BFA, Económico, BIC e BFA, ainda o BPC e o Millennium Atlântico, mas até ao fecho deste artigo, às 17 horas desta Segunda-feira, não obteve respostas.