Faz hoje 1.091 dias que se desconhecem os resultados das operações da instituição. Isto desde que a Justiça iniciou o processo de recuperação de participações no banco adquiridas com dinheiro público. No mês em que o banco central deve anunciar o desfecho do processo de reestruturação, empresários e grandes clientes não descartam possível falência da instituição.
POC Notícias: Moisés Tchipalavela e Ruth Cangombe
FOTO: D.R
O Banco Económico completou, esta Quarta-feira, 13, três anos e 13 dias desde que deixou de informar ao mercado os resultados das suas operações, já que a instituição não divulgou, no período, nenhum relatório e contas das suas actividades, o que está a levantar questionamento sobre eventual processo de falência em curso, apurou o POC-Noticias de fontes do mercado e junto do website da entidade.
Até à tarde desta Quarta-feira, o balancete do terceiro trimestre de 2019 foi o último documento oficial do banco divulgado em que se resumem as operações da instituição bancária, quando a norma do banco central impõe publicação regular e atempada dos relatório e contas anuais, demonstrações de resultados e dos balancetes, no caso dos trimestres.
O último relatório e contas conhecido é o referente a 2018 e dá conta de um resultado líquido de 36.374 milhões de kwanzas, valor que representava um crescimento de mais de 500% face ao total recolhido ao longo de todo ano 2017.
Por sua vez, os recursos de clientes também tinham registado um salto considerável. Ou seja, os depósitos estavam fixados, em 2018, em 1,05 bilião de kwanzas, mais 62% do que as margens contabilizadas em 2017.
Assim, sem as contas dos anos subsequentes, nomeadamente de 2019 e 2020, não se consegue fazer as contas do quanto o banco fez com o dinheiro dos clientes ou onde estes estarão aplicados.
“O último relatório e contas conhecido é o referente a 2018 e dá conta de um resultado líquido de 36.374 milhões de kwanzas, valor que representava um crescimento de mais de 500% face ao total recolhido ao longo de todo ano 2017”
Esta postura do banco está a levantar suspeitas, em vários ciclos da vida económica e empresarial do país, de um possível desfecho negativo na busca de solução do banco. Ou seja, os agentes económicos ouvidos pelo POC-Notícias não descartam hipóteses de a instituição estar a viver uma falência técnica. Isto num mês em que o banco central se prepara para dizer se o Económico continua ou não a operar no País.
Ao POC-Noticias, um empresário de influência no sector imobiliário, que pediu o anonimato, garantiu que a não divulgação de contas dentro dos prazos é o primeiro sinal de irregularidade nas operações de uma empresa, e não descarta que esse seja o caso do Banco Económico.
“Não tenhamos muitas ilusões. O banco está com problemas e grave. Se está há três anos que não divulga as contas, nem diz onde estão aplicados os recursos dos clientes, o que vamos pensar, nós, depositantes, das suas acções?”, questionou o empresário, para quem o banco central é “cúmplice” no que pode vir a acontecer com os recursos dos depositantes.
Banco que mais viola regra de divulgação de contas
Ao proceder de forma contrária à norma do regulador por mais de três anos, o Banco Económico fica, assim, na posição de instituição bancária angolana que mais viola as regras do banco central sobre a apresentação de contas dentro dos prazos.
O aviso sobre o processo de normalização e harmonização contabilística do sector bancário, com o nº05/2019, no seu artigo 6º, estabelece que as “instituições [financeiras devem publicar, trimestralmente, os seus balancetes em base individual e em base consolidada, caso seja aplicável”.
“O desfecho do Banco Económico só pode ser a liquidação ou injecção de capital por parte do Estado, através do Ministério das finanças. Isto”
Já no ponto 2 do mesmo artigo, as instituições são também advertidas a publicar, semestralmente, as demonstrações financeiras indicadas, “sendo obrigatório para as instituições que estejam com um total de activo em base individual, apurado no final do exercício precedente, superior a 400 mil milhões Kz, devendo as mesmas aplicar os requisitos estabelecidos na Norma Internacional de Contabilidade 34 – Relato Financeiro Intercalar (IAS 34)”.
Quanto aos prazos, o BNA manda que os balancetes em base individual e em base consolidada, caso aplicável, devem ser publicados até 45 dias após o término do respectivo trimestre.
Já a publicação das demonstrações financeiras, devem ser publicadas, semestralmente, até 30 de Setembro do ano em questão, e, anualmente, até 30 de Abril do ano subsequente, conforme o artigo 7º desta mesma norma.
Suspeitas de falência em curso
Os receios de que o banco vive maus-momentos também surgem do sector bancário, como confirmaram vários banqueiros e quadros seniores do sector ao POC Notícias, em reacção à pergunta sobre o ‘day-after’ resolução do Banco Económico pelo banco central.
Um bancário ligado a uma grande instituição do mercado nacional diz não ter dúvidas de que o desfecho do Banco Económico só pode ser a liquidação ou injecção de capital por parte do Estado, através do Ministério das finanças. Isto, prossegue a fonte, “no caso de falhar a estratégia que previa colocar os grandes depositantes como os futuros accionistas do Económico”.
O POC Notícias contactou a direcção de comunicação institucional do Banco Económico, através da agência que controla a sua comunicação, com vista a apurar o quadro operacional da entidade, bem como solicitar os relatórios e contas dos últimos dois anos, mas até ao fecho deste artigo não obteve respostas dentro do deadline estabelecido.