África, o continente menos responsável pelas emissões globais, é simultaneamente a principal vítima das alterações climáticas e um dos territórios onde os impactos ambientais mais alimentam conflitos, instabilidade e deslocações forçadas. A realidade foi sublinhada no encontro “Adaptação para a estabilidade – Desenvolver parcerias para a paz e a resiliência climática em África”, realizado a 14 de Novembro de 2025, em Belém, no âmbito da COP 30.
Os números divulgados mostram um cenário alarmante, nove dos dez países mais vulneráveis às alterações climáticas estão em África, tal como 12 dos 19 mais afectados por conflitos armados e nove dos 20 em maior fragilidade institucional e social. A sobreposição destas crises transforma-se numa ameaça directa à estabilidade e até à sobrevivência de milhões de pessoas.
Representantes das Nações Unidas, instituições financeiras, organizações regionais e sociedade civil participaram no debate, centrado na necessidade urgente de integrar, de forma estruturada, o nexo clima–paz–segurança nas políticas públicas e nos programas de desenvolvimento.
Segundo Al Hamndou Dorsouma, chefe da Divisão de Clima e Crescimento Verde do Banco Africano de Desenvolvimento, os efeitos climáticos estão já a amplificar conflitos em todo o continente:“Só em 2024, as catástrofes climáticas provocaram 9,8 milhões de novas deslocações internas em África. A diminuição das chuvas e a escassez de água alteraram os padrões migratórios das comunidades pastorais, intensificando disputas entre pastores e agricultores, do Sahel ao Corno de África.”
A ligação entre segurança e clima é hoje incontornável, defende também Abdi Fidar, director do Centro de Previsão Climática da IGAD, lembrando que muitas das zonas mais frágeis do continente continuam sem acesso adequado a financiamento climático.
A mesma visão foi reforçada pela especialista Nazanine Moshiri, da Fundação Berghof. “Não há implementação de projectos climáticos sem paz; não se pode combater as alterações climáticas sem paz.”





