POC NOTÍCIAS | Cardoso Alfredo | geral@pocnoticias.ao | Foto: DR
Luanda – A empresária angolana Paula Bartolomeu advogou hoje, em Luanda, a necessidade dos bancos comerciais estarem mais próximos dos produtores nacionais, reforçando a concessão de crédito para desenvolver o agro-negócio e aumentar os níveis de produção em Angola.
Em declarações à imprensa, no âmbito do 3º Congresso angolano sobre o direito bancário, decorrido esta sexta-feira, a produtora agrícola apontou a morosidade e o excesso de burocracia na disponibilização do financiamento e legalização de terras aráveis como os principais factores que dificultam o aumento da produção de bens alimentares no país.
Para a também fundadora da fazenda “Maravilha”, os requisitos exigidos para obtenção de um crédito agrícola estão longe da realidade dos agricultores, facto que dificulta o acesso ao financiamento e, consequentemente, retarda o processo de produção.
Adicionalmente, a empresária referiu que o desenvolvimento do sector agrícola angolano ainda carece da disponibilização de meios de produção (tratores, charruas, sementes de qualidade e fertilizantes), além de estar condicionado à taxa de câmbio e os impostos aplicados na importação dos insumos.
Perante esse quadro, Paula Bartolomeu apela aos bancos comerciais a irem ao encontro dos camponeses para dialogar e encontrar um ponto de equilíbrio para financiar os produtores, assim como isentar os impostos sobre a importação de meios de produção.
Aponta também a profissionalização do agro-negócio, com a criação de uma disciplina sobre agricultura no sistema de ensino angolano, como outro factor fundamental para alavancar o sector agrícola em Angola.
Apesar disso, a gestora reconheceu os passos que o país deu nos últimos cinco anos, fruto dos programas gizados pelo Executivo e da cultura de diálogo que se tem registado em Angola.
“Actualmente, a prática da agricultura já não é vista apenas como uma actividade para a subsistência ou para pobres, tal como era nos anos anteriores, mas é tida como um negócio rentável, que tem atraído muitas empresas para o agro-negócio no país”, sublinhou.
Segundo Paula Bartolomeu, o agro-negócio constitui um dos factores de crucial importância para garantir a segurança do Estado e alimentar do país, que ainda é maioritariamente dependente de importações de bens de amplo consumo, socorrendo-se às divisas da venda do petróleo.
Por isso, prosseguiu, é necessário que se dê maior atenção à agricultura familiar e comercial, com vista a deixar de depender apenas das receitas petrolíferas e de importações de produtos alimentares.
“Temos de ter a capacidade de produzir bens de consumo em grande escala no país, para termos o controlo do que nós comemos”, alertou.
Fazenda Maravilhosa com foco na produção da banana pão
Criada há dois anos, no município do Dondo, província do Cuanza Norte, a fazenda Maravilhosa concentra a sua produção, em grande escala, na banana pão e no maracujá, além de se dedicar no cultivo do tomate, pimento, milho, da cebola e mandioca (17 hectares cultivados).
Para este ano agrícola, o projecto pretende atingir 100 hectares para a plantação da banana pão e 30 hectares para maracujá, até 2023, contra os actuais 30 hectares cultivados.
De acordo com Paula Bartolomeu, o alcance desta meta vai precisar de cerca de 300 milhões de kwanzas, que serão utilizados na compra de novos equipamentos agrícolas e aumentar a produção.
Para tal, a gestora referiu que vai continuar a “bater portas para captar financiamento, apesar da concessão do crédito agrícola ainda ser elitizado no país”.
Com um total de 680 hectares, a fazenda emprega 22 trabalhadores nacionais, uma iniciativa que ainda não beneficiou de financiamento de terceiros, segundo a proprietária.