ENTREVISTA
FRANCISCO PINTO LEITE – DIRECTOR GERAL DA ITA – INTERNET TECHNOLOGIES ANGOLA
‘O próprio sistema já começa a estruturar-se. (…) colocando Angola em uma posição mais favorável em termos de negociação com grandes produtores de conteúdo como Netflix, Google e Microsoft.’
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POC Notícias: Domingos Barros | geral@pocnoticias.ao | Foto: DR
Neste momento quantos trabalhadores empregam?
Actualmente a ITA tem 180 colaboradores, distribuídos por: Luanda, Benguela, Lubango, Saurimo, Huambo e Cabinda.
Quais foram os impactos da pandemia nos dois últimos anos ao nível dos serviços que a ITA disponibiliza ao mercado angolano?
O maior impacto da pandemia foi em 2020, onde as empresas tiveram de adaptar-se ao “novo normal”. Tivemos empresas que diminuíram o seu volume de negócio e outras mesmo que chegaram a fechar, nos encontrávamos num momento em que tudo fizemos para salvaguardar a operacionalização dos nossos clientes; revimos os nossos objectivos e firmes continuámos a entregar serviço de qualidade.
Em 2021, o impacto já foi mais previsível, face ao vivido no ano anterior. Preparamo-nos melhor, mas ainda conscientes de que seria outro ano atípico, e isto refletiu-se no crescimento visível na melhoria de entrega dos nossos serviços.
Os objectivos traçados pela ITA para 2021 foram concretizados?
Apesar das contingências impostas pela pandemia e, consequentemente, pelos desafios da economia, pensamos que conseguimos alcançar de forma positiva os objectivos preconizados para 2021. Damos destaque para quatro (4) pontos muito importantes para a concretização destes:
Infraestruturas – ressaltamos aqui a implementação da ligação de fibra óptica de Luanda até a localidade do Noqui, fronteira com a República Democrática do Congo, o lançamento do primeiro serviço de internet de banda larga no leste do País (Moxico) e a cobertura nacional, por fibra óptica, de 16 das 18 províncias.
Serviços – realçamos também a consolidação da nossa infraestrutura de Cloud, que vem proporcionando aos nossos clientes uma maior diversidade e robustez nos demais serviços.
Processos internos – seguimos focados na melhoria contínua dos nossos processos internos, na implementação e consolidação dos mesmos, para que estes se revertam eficaz e eficientemente em agregação de valor aos nossos parceiros.
Recursos humanos – podemos afirmar que todos os objectivos alcançados deveram-se, essencialmente, ao facto de uma aposta da Empresa na melhoria e capacitação dos seus quadros nos mais diversos níveis; não existe sucesso sem quadros qualificados a exercer as suas funções com a exigência que é requerida.
Qual foi o valor financeiro investido nos diferentes projectos concretizados no ano passado?
Na ITA, os investimentos são apreciados de maneira holística; pois nos últimos anos os nossos accionistas decidiram abdicar da distribuição de dividendos à favor do reinvestimento. Ou seja, durante este período temos vindo a reinvestir praticamente a totalidade dos nossos rendimentos.
Quais foram as receitas e custos da empresa em 2021?
Em 2018 tivemos um EBITDA de 20%, em 2019 de 25% e 2020 de 30%. Ou seja, apesar da pandemia e da recessão económica, temos vindo a manter um crescimento constante na margem dos 5 pontos percentuais.
O que representou para a empresa a primeira ligação de internet de banda larga no Moxico? Qual foi o valor de investimento neste projecto?
A primeira ligação de internet de banda larga no Moxico marcou um novo capítulo nas telecomunicações do País e reafirmou o compromisso da ITA e do Grupo Paratus em transformar Angola num HUB de dados na África Subsaariana. O nosso objectivo é desenvolver infraestruturas robustas que permitam alavancar o potencial económico dos municípios e promover a transformação digital na região.
Os mais de 1000 quilómetros de ligação pelo Caminho de Ferro de Benguela, custam-nos por ano em manutenção um montante de 450 milhões de kwanzas, sendo que para a concretização do projecto foi investido aproximadamente 2 milhões de dólares.
Quais são os principais desafios da ITA para 2022?
Antes de começarmos a falar de desafios, gostaríamos de mencionar alguns indicadores que nos deixam expectantes por este novo ano, começamos pela estabilização do Kwanza, que sofreu no último semestre de 2021 uma valorização considerável, e a previsão de crescimento económico de Angola segundo o Executivo de 2,4%, refletindo uma inflexão da curva de crescimento que a economia vinha tendo até ao momento. Porém, continuam a existir riscos destes indicadores não se concretizarem. Pelo que, o grande desafio mostra-se na criação e implementação de um plano de contingência pelas empresas, caso estes indicadores de optimismo não se venham a concretizar.
Outro desafio que cabe citar, é na contratação de quadros angolanos especializados em algumas áreas específicas; uma vez que com o crescimento da Empresa temos a necessidade de cada vez mais contratarmos colaboradores com elevado conhecimento. Por último, a nossa consolidação no Grupo Paratus, que passa pelo fortalecimento da marca no mercado angolano.
Que avaliação faz do mercado das tecnologias em Angola?
O próprio sistema já começa a estruturar-se. O sector por si só vai amadurecendo e prova disso é o aparecimento dos pequenos ISP’s, que trazem ao mercado maior agilidade e flexibilidade na entrega de serviços, pela sua proximidade com consumidor final, e por outro lado têm custos operacionais mais reduzidos, deixando que os wholesalers e os grandes operadores fortifiquem as sua actividades e foquem-se na melhoria dos seus serviços, que se reverte no aumento do tráfego local, colocando Angola em uma posição mais favorável em termos de negociação com grandes produtores de conteúdo como Netflix, Google e Microsoft. Cada vez que clicamos em um botão, ganhamos acesso internacional, que se resume a dois elementos: o custo e a percepção de qualidade do serviço. É isso que pretendemos melhorar com a nossa estratégia.
Quais sãos as perspectivas para o futuro da empresa?
Em 2013, a ITA traçou claramente o seu Plano Estratégico para se posicionar como uma operadora de referência no sector das TICs. Continuamos a acreditar e a reinvestir no País. Desde 2013, aumentamos o número de funcionários de 50 para 180. Em 2021, conectamos o leste de Angola ao resto do mundo, ao lançar o primeiro serviço de internet banda larga no Moxico, a maior província de Angola no leste do país.
A novidade, fizemos a nossa primeira interligação internacional de fibra óptica com a República Democrática do Congo, integrando Angola na rede africana. Actualmente, estamos a cobrir as outras quatro províncias onde ainda não havia conectividade terrestre. A nossa grande ambição é trazer Angola para o contexto da SADC. Somos um pequeno contribuidor para fazer de Angola o que todos os angolanos sonham.