Já não é uma questão de ‘imagem’ da banca nacional. Desta vez, como asseguraram banqueiros ao POC Notícias, ou liquida-se o banco, ou o acionista maioritário, o Estado, injecta dinheiro, como fez com o extinto BESA, numa altura em que a própria Função Pública tem dificuldade em pagar salários, pensões de reforma e subsídios de Natal.
POC Notícias: Moisés Tchipalavela
Foto: D.R
Os quatro accionistas do Banco Económico estão obrigados a realizar um aumento de capital e apresentar um plano de reestruturação da entidade até 22 de Novembro sob pena de perderem as suas posições no banco, de acordo com o Banco Nacional de Angola (BNA) e várias fontes do mercado bancário a que o POC Notícias consultou.
Actualmente, integram o corpo accionista do Banco Económico a Sonangol, com maioria do capital (com mais de 70% do capital social da instituição), a Geni Tecnologias, com 19,90%, e o português Novo Banco, com 9,72% do capital.
Se até 22 de Novembro este grupo de sócios não encontrar soluções para o salvar o Banco Económico, “tudo é expectável que o Estado, mais uma vez, coloque dinheiro num banco que não soube gerir recursos dos depositantes”, como comentou ao POC Notícias, um influente economista da praça financeira angolana.
“Não há outra saída”, defende outro analista, que considera tardia a medida tomada agora pelo regulador angolano.
“Se até 22 de Novembro este grupo de sócios não encontrar soluções para o salvar o Banco Económico, “tudo é expectável que o Estado, mais uma vez, coloque dinheiro num banco que não soube gerir recursos dos depositantes”
A decisão do BNA surge na sequência de uma reunião do seu conselho de administração que, em sessão extraordinária, realizada no dia 26 de Outubro de 2021, deliberou a aplicação de medidas de intervenção correctiva ao BANCO ECONÓMICO, S.A. (BE), visando assegurar a sua capitalização, tornando-o mais sólido, seguro e sustentável, para a salvaguarda dos interesses dos depositantes e a estabilidade do sistema financeiro.
Segundo o próprio regulador, esta decisão surge ainda na sequência da degradação da qualidade dos activos e agravamento dos níveis de liquidez e de solvabilidade da instituição, assim como da indisponibilidade manifestada pelos actuais accionistas em assegurar o capital necessário que garanta o seu reequilíbrio patrimonial, para assegurar o cumprimento dos requisitos prudenciais, legalmente exigidos e o normal funcionamento do Banco.
Ao POC Notícias, analistas não descartaram hipóteses de estarmos perante mais um caso semelhante ao extinto BANC. Ou, como defenderam, um BPC, que “vive à mercê de resgastes públicos”, condição que outros operadores, como o Banco Postal, o Banco Mais e Kwanza Investe não beneficiaram.
“Neste sentido, ponderadas as opções que permitam a continuidade da operação do BE, o Conselho de Administração do Banco Nacional de Angola determinou a aplicação das seguintes medidas de intervenção correctiva, responsabilizando o Conselho de Administração do Banco Económico pela sua implementação (…)”, determinou o regulador.
Entre as condições apresentadas pelo BNA, consta a medida de que o BE tem de apresentar um Plano de Reestruturação prevendo a incorporação total de perdas no capital social, diferir, pelo método linear e em parcelas anuais iguais, o reconhecimento de imparidades, num período de 5, com referência a 31 de Dezembro de 2020, além de aumentar o capital próprio do BANCO ECONÓMICO, S.A. no valor mínimo de mais de um bilião de Kwanzas.
“Até esta Sexta-feira, 5, a entidade tinha as contas de 2019, 2020 e vários balancetes por apresentar, actuando em ‘contramão’ com as regras do regulador angolano”
Face a isto, o banco central entende que tem de haver reestruturação do empréstimo subordinado do Novo Banco, considerando a conversão parcial deste empréstimo em acções do BE, e a subscrição do remanescente em Títulos de Participação Perpétuos, com opção de reembolso anual, por iniciativa do emitente, o Banco Económico, a partir do 10.º ano da sua emissão.
Também são esperados que se faça a conversão parcial em capital, por via negocial, dos depósitos dos depositantes com saldo igual ou superior ao equivalente a 3 mil milhões de Kwanzas, excluindo entidades públicas e equivalentes cumprindo.
O Banco Económico é uma das instituições angolanas que mais viola a regra de divulgação de contas. Até esta Sexta-feira, 5, a entidade tinha as contas de 2019, 2020 e vários balancetes por apresentar, actuando em ‘contramão’ com as regras do regulador angolano.