O sector bancário angolano, alicerce da economia nacional, enfrenta desafios complexos em um cenário marcado por volatilidade externa e transformações internas. A gestão de riscos surge não apenas como uma necessidade técnica, mas como um imperativo estratégico para garantir a estabilidade financeira e a confiança pública. Este artigo discute três dimensões críticas: o impacto dos riscos financeiros e não financeiros, o papel da conformidade regulatória e estratégias para fortalecer a resiliência contra crises.
TEXTO: WITMAN LUAMBA ( Mestre em Finanças) | OPINIÃO
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Os riscos financeiros tradicionais, como crédito, liquidez e mercado, continuam a pressionar os bancos angolanos. Em 2020, a taxa de inadimplência (NPL) no sector atingiu 22%, reflectindo vulnerabilidades agravadas pela crise do petróleo e pela pandemia. Bancos com alta exposição a empréstimos não performantes (Non-Performing Loans – NPLs) se refere a empréstimos em atraso, enfrentaram redução de capital e limitações na concessão de crédito, impactando a economia real.
Já os riscos não financeiros, como falhas operacionais, ciberataques e crises reputacionais, ganharam relevância com a digitalização acelerada. A dependência de sistemas tecnológicos obsoletos aumenta a vulnerabilidade a fraude, enquanto escândalos de governança abalam a confiança do público. Em um mercado onde a lealdade do cliente é frágil, uma única falha operacional pode desencadear saques em massa, como observado em muitas instituições do nosso mercado até agora.
A convergência desses riscos ameaça a solvência e a reputação do sector, exigindo uma abordagem holística que vá além dos balanços patrimoniais.
Para uma análise mais completa é fundamental percebermos a importância da conformidade regulatória no processo de mitigação de risco.
“Em um mercado onde a lealdade do cliente é frágil, uma única falha operacional pode desencadear saques em massa, como observado em muitas instituições do nosso mercado até agora”
O Banco Nacional de Angola (BNA) tem reforçado o arcabouço regulatório, alinhando-se a padrões internacionais como Basel III e as recomendações do Grupo de Acção Financeira (GAFI). A regulamentação sobre capital mínimo (AEO, 2022) e a exigência de planos de recuperação são passos cruciais para evitar colapsos sistémicos. Além disso, é necessário reforçar os mecanismos de gestão de risco, implementando sistemas mais sofisticados de monitoramento e previsão de crises. O desenvolvimento de planos de contingência e testes de stresse regulares pode preparar melhor os bancos para lidar com choques inesperados.
Outro ponto essencial é a promoção da educação financeira e do fortalecimento da governança corporativa. Uma liderança bancária bem treinada e ética é um factor decisivo para a estabilidade do sector, pois decisões mal informadas ou movidas por interesses individuais podem gerar riscos sistémicos de longo prazo.
Contudo, a conformidade não deve ser vista como mera burocracia. Pois dentro da instituição, ela serve como escudo contra riscos. Por exemplo, a adopção de políticas antifraude e de “know your customer” (KYC) reduz a exposição a lavagem de dinheiro, um risco relevante em economias em transição como a angolana. A multa de 1,5 mil milhões de kwanzas aplicada pelo BNA a um banco por descumprimento em 2021 ilustra o custo da negligência, mas também sinaliza a seriedade do regulador.
A conformidade proactiva, aliada à transparência, transforma regras em vantagem competitiva, atraindo investidores e parceiros internacionais.
Para resistir a choques externos, os bancos angolanos precisam adoptar medidas multidimensionais:
- Testes de Stresse Realistas: Simulações que incluam cenários extremos, como queda abrupta no preço do petróleo (que responde por 90% das exportações), ajudam a identificar brechas.
- Diversificação de Receitas: Reduzir a dependência de empréstimos corporativos e explorar serviços digitais (pagamentos móveis, microcrédito) pode equilibrar portfólios.
- Tecnologia e Capacitação: Investir em inteligência artificial para monitorar riscos em tempo real e treinar funcionários em cibersegurança são algumas medidas que entendemos ser urgentes se quisermos de facto mitigar os riscos eminentes.
- Colaboração Sistémica: Parcerias com o BNA e outros bancos para compartilhar dados e melhores práticas fortalecem todo o ecossistema.
A crise de 2020 mostrou que instituições com reservas de capital acima dos 12% exigidos pelo BNA recuperaram-se mais rápido, comprovando que prudência e inovação são complementares.
Em resumo entendemos que a gestão de riscos no sector bancário angolano não é apenas uma resposta a crises passadas, mas uma aposta no futuro. Enfrentar riscos financeiros e não financeiros exige mais do que regulamentos; demanda uma cultura organizacional que priorize a prevenção. A conformidade deve ser um diálogo contínuo com o regulador, e a resiliência, construída por meio de inovação e cooperação.
Em um país que busca diversificar sua economia e modernizar sua infraestrutura financeira, os bancos têm o duplo papel de guardiões da estabilidade e motores do desenvolvimento. A hora de agir é agora — antes que a próxima crise nos apanhe em contra-mão JIKULIMESSU.
Por: Witman Luamba