Está cada vez claro que, à volta do MPLA, está montada uma máquina para sabotar todas as oportunidades de avanço do país, para que grupos que se renovam constantemente, se aglutinem à volta de quem seja o epicentro desta fórmula obsoleta: presidente do MPLA e da República, com todos os poderes e mais alguns, sobre o país. Analisem comigo, de novo, momentos em alguns dos quais eu próprio fui protagonista.
TEXTO: MARCOLINO MOCO | OPINIÃO
Por volta de 2001, fui chamado à sede do partido pelo então Secretário-Geral J. Lourenço, e bem se via, que “a mando superior”, para que eu deixasse de criticar, publicamente, o então slogan do regime, segundo o qual era preciso “fazer a guerra para acabar com a guerra”. Eu recusei-me a aceitar este conselho, porque sabia que internamente era impossível levantar o problema, pelas características leninistas que vigoravam, mesmo depois de já proclamada a democracia no país e dentro dos partidos; não aceitando, por outro lado, enterrar a minha condição de cidadão angolano, perante uma linha que eu achava, e como se comprova até hoje, errada. É ver como a UNITA continua a ser tratada como parte vencida e por isso “sem direito à palavra”. Verifique-se o recente e estrondoso comunicado do MPLA contra os sempre sem razão alguma.
Em 2009, ainda como cidadão e até simples ser humano, conhecedor mínimo da história do constitucionalismo moderno e sua articulação com a realidade de cada país e do meu país em particular, manifestei o meu desacordo total com uma “constituição” que dando tantos poderes ao PR e subtraindo-o de todos os mecanismos formais e materiais de fiscalização e controlo iria “dar bandeira”, como está dar. Dessa vez, foi o agora apodado, em alguns textos de “mando superior”, como “primo” de um putativo candidato a presidente do MPLA, quem me chamou. Já não foi na sede do partido, onde era agora ele quem ocupava o posto também de Secretário Geral, mas sim, na AN, para que o enxovalho fosse mais impactante. E passei a ser o Chipenda desse tempo.
Tudo muito intrigante, para muitas vezes, como o tenho dito, pensar que alguém acima do MPLA, dentro ou fora do país tem estado a bloquear a estabilidade política, económica e social de Angola, utilizando a cobardia e a mesquinhice, dentro daquele partido histórico. Como entender que a tinta dos escritos atribuídos ao Dr. Luís Fernando, comunicador do Palácio da Cidade Alta, onde me insultava e caluniava tão desalmadamente, ainda não está seca, e já se apresentam meus defensores perante o General Dino Matross, de que, todos o sabem, nunca guardei nenhum rancor, assim como de todos os meus colegas da antiga direcção do MPLA? Se não guardo mágoa, mesmo, dos nossos compatriotas da UNITA com quem temos que consolidar a reconciliação, para o bem do país?
Reitero que nos reconciliemos a todos. Não tanto para salvar os nossos partidos históricos (no caso do MPLA, sempre em torno de uma só pessoa) mas, salvar o nosso país da hecatombe. Apoio as palavras de Dino Matross, sobre o surgimento de candidaturas múltiplas, mas que JES seja o último a ser apresentado como o bode expiatório de todos os males que são uma herança colectiva do MPLA. Retirem o título de “novo Chipenda” ao General Dino Matross (que, por acaso, também é primo de JLO) que cada tempo tem o seu problema fundamental que deve ser resolvido. Que se negoceie, se necessário, com os que do exterior ou do interior acham que sem estabilização não vão levar nada ou vão levar pouco. Angola é grande e tudo chega para todos.
Sintamos vergonha, como políticos, do mal que temos feito ao país e aos povos de Angola, desde a independência.
Fonte: Facebook