No seu discurso sobre o Estado da Nação, o Presidente da República destacou os avanços registados no sector da energia e água, sublinhando a expansão da capacidade de produção eléctrica, o reforço da rede de transporte e a melhoria no acesso dos cidadãos a serviços básicos essenciais. Contudo, os números revelam uma realidade mais complexa, num país com mais de 35 milhões de habitantes, apenas cerca de 8,5 milhões beneficiam efectivamente destes serviços, deixando uma larga maioria ainda à margem.
Nos últimos anos, Angola elevou a capacidade instalada de produção eléctrica para 6.123 MW, uma conquista considerada estratégica para sustentar o crescimento económico. A rede de transporte atinge 4.095 km e a de distribuição 5.162 km, permitindo interligar várias províncias. O Executivo reafirmou o compromisso de continuar a modernizar a infraestrutura energética, mas a cobertura continua limitada e desigual, sobretudo nas zonas rurais e periféricas.
As energias renováveis registaram progressos, com a instalação de 41 mini-redes solares e 113 sistemas fotovoltaicos, beneficiando 637 mil pessoas em áreas remotas. Apesar do esforço, o número representa ainda uma pequena fracção da população total, reforçando o desafio da universalização do acesso.
No domínio da água, 8,5 milhões de pessoas têm acesso a água potável, após a reabilitação de 50 estações de tratamento, a construção de 54 novas e a instalação de 11.000 fontenários. Ainda assim, mais de 25 milhões de angolanos continuam sem acesso a este bem essencial.
Embora o Chefe de Estado tenha afirmado que “o acesso à energia e à água potável é um direito fundamental e um catalisador do desenvolvimento económico e social”, a distância entre os objectivos traçados e a realidade concreta evidencia um desafio estrutural profundo. O crescimento da infraestrutura não tem acompanhado a dimensão populacional, perpetuando desigualdades no acesso a serviços básicos.