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O sistema de bónus diários da Yango está a captar a atenção de taxistas privados, que dizem ser possível ganhar 1 milhão de kwanzas por mês com a aplicação. O número de carros da aplicação nas ruas de Luanda vai em aumento, impulsionado também pela tecnologia que permite rentabilizar o tempo de trabalho e poupar dinheiro em gastos de operação.
Marcelino Van-Dúnem e Euclides Domingos são motoristas privados da Yango. Marcelino não tinha qualquer experiência como taxista antes da empresa aparecer no mercado angolano, a 28 de Abril deste ano. Euclides sim, trabalhara já com outras aplicações. Dois meses depois do lançamento da plataforma, os dois taxistas estão no topo da tabela de desempenho da Yango. Marcelino e Euclides ganham uma média de 1 milhão de kwanzas por mês com a aplicação.
Com um sorriso de orelha a orelha, Marcelino, que começou a circular com a Yango a 2 de Maio passado, assume que “nunca soube o que era ter todo esse dinheiro na conta”. “Quando me explicaram o esquema de pagamentos e vi o dinheiro que era possível fazer, pensei que era surreal”, remata, por seu lado, Euclides Domingos.
O que tem então a Yango a oferecer aos motoristas para terem esse nível de rendimentos? Ivan Mujimbo, director-nacional da empresa em Angola explica: “Os motoristas ficam com todo o dinheiro que recebem directamente dos passageiros, não têm que dar nada disso à Yango. Adicionalmente, recebem um bónus de 30 mil e 100 kwanzas por cada dia que cumprirem as 14 corridas que estabelecemos como objectivo diário. A comissão que cobramos aos motoristas é de 13% sobre o valor total das viagens. Para que eles não tenham que tirar esse valor do bolso e dar-nos o dinheiro em mão, descontamos a comissão do total dos bónus que lhes transferimos”.
Este “modelo único no mercado”, como classifica Ivan Mujimbo, é do agrado dos taxistas. “Como fico com o dinheiro das corridas e não dou nada à Yango, porque a empresa retira essa comissão do bónus, nem sinto que lhes dou esses 13%, é uma forma muito suave de acertarmos contas sem parecer que lhes estamos a pagar alguma coisa”, afirma Marcelino.
Por outro lado, Euclides Domingos garante que “esta fórmula ajuda a garantir os lucros”. O motorista com experiência noutras plataformas conta que “outras aplicações exigem uma carga de trabalho maior, porque exigem muito mais corridas diárias para darem o bónus”, compensação esta que “não difere muito em valor e é semanal, enquanto na Yango é diária”. Para além disso, diz, “as comissões que outros serviços de táxi privado cobram não convêm aos motoristas”, motivo que o levou a associar-se à Yango.
Marcelino confirma. “À primeira vista, podemos pensar que esta aplicação não compensa, porque os preços que cobra aos passageiros são mais baixos que as outras aplicações, mas na verdade não é assim”, garante. E apresenta as contas. “Certa vez, entrei a trabalhar ao mesmo tempo que um amigo de outra aplicação e saímos juntos. No final do dia, ele juntou 47 mil kwanzas e eu tinha os 23 mil que me pagaram os clientes. Mas como eu tinha cumprido as 14 corridas diárias que a Yango estabelece, já tinha direito ao bónus de 30 mil e 100 kwanzas. No final do dia, tirando gastos de combustível, de dados de telemóvel e a comissão de 13%, acabei por ganhar mais dinheiro que o meu amigo que cobrou mais aos passageiros”.
Com “as perspectivas e os lucros em alta”, Marcelino está agora a preparar-se para dar um salto de gigante. “Já fiz um estudo de viabilidade no mercado e sei que posso pôr no mercado mais 200 ou 300 taxistas”, exclama.
Actualmente, a Yango conta com perto de dois mil motoristas e oito empresas parceiras, segundo o director-nacional Ivan Mujimbo.
Tecnologia e poupanças
Quando ouviram falar pela primeira vez na Yango, a história parecia demasiado boa para ser verdade. “Um dia entrou no meu táxi um senhor que me contou como funciona a aplicação. Disse-me o que agora sabemos, que não ia sentir o pagamento da comissão, porque era cobrado sobre o valor do bónus. Não percebi. ‘Então vou ficar com 100% do dinheiro que produzir e ainda vão-me pagar mais?’ Disse-me que sim”. “Meio desconfiado”, decidiu arriscar.
Começou a trabalhar logo no início de operações da Yango, a 28 de Abril deste ano. “Comecei com cinco viagens, para experimentar”. No final desse dia, recebeu uma chamada da empresa de transportes parceira na qual estava registado. “Disseram-me que tinha dinheiro a receber. ‘A pagar ou receber?’ ‘Não, já tens dinheiro na tua conta’”. “Fiquei surpreendido”, revela com uma gargalhada. “Foi aí que percebi que era uma empresa séria e que pagavam mesmo”.
Hoje com rendimentos na ordem de 1 milhão de kwanzas mensais, Euclides gere o trabalho na aplicação para rentabilizar o tempo e os lucros. “Com a Yango descanso mais e tenho a oportunidade de trabalhar de forma inteligente para aproveitar o fluxo de tráfico e de passageiros segundo os horários e os itinerários”, explica. Embora a aplicação não exija a exclusividade aos seus motoristas, Euclides mantém-se conectado mesmo depois de completar a meta das 14 viagens diárias. “O saldo da minha conta continua a crescer depois de alcançar o bónus. Não somos obrigados a trabalhar só com a Yango, mas esta aplicação consegue pôr-nos a trabalhar 24 horas por dia, se quisermos”.
A tecnologia da aplicação ajuda o dia a render. “A Yango não te deixa parar, um ou dois minutos depois de deixares um cliente, já recebes outra viagem, o que é muito bom para os motoristas que de verdade querem trabalhar”, descreve. Este sistema, conhecido por “cadeia de pedidos”, baseia-se numa tecnologia que detecta o volume da procura de transporte, realizando os cálculos necessários para atribuir viagens de forma consecutiva. Na prática, conta Marcelino, “ajuda a reduzir o espaço entre viagens e a aproveitar melhor o tempo de circulação”, com “poupanças em combustível e no próprio desgaste do carro”. Segundo a Yango, este sistema pode reduzir até 40% o tempo morto entre corridas e aumentar até 70% os rendimentos dos condutores.
Em termos de tecnologia, outro diferencial que os motoristas destacam prende-se com o sistema de geolocalização da Yango. A aplicação conta com mapas próprios, feitos à medida de Luanda, e que incluem pontos de referência para ajudar a localizar os pontos de partida e chegada. “São mapas muito mais precisos que os que se usam nas outras aplicações de táxi, como o Google Maps. Os mapas da Yango têm a descrição detalhadas das zonas, o que nos ajuda muito”, assegura Euclides, que aponta outra vantagem comparativa: “ao contrário de outras aplicações, os mapas da Yango funcionam bem tanto em iOS como Android”.
Motoristas com direitos
O actual modelo de negócio da Yango, com lucros chorudos para condutores como Marcelino e Euclides, é parte da estratégia de entrada da empresa no mercado angolano. E eles estão cientes disso. “Entendo que nesta fase inicial as empresas concentram-se em ganhar agentes, motoristas e consumidores e contam com um fundo de maneio para arcar com todos os custos, como os bónus, até atingirem o seu objectivo comercial”, assume Euclides Domingos.
“Em algum momento a Yango vai ter que equilibrar o modelo de negócio”, admite, por seu lado, o director-nacional, Ivan Mujimbo, para quem a empresa “só daqui a um ano ou mais começará a ter lucro” com a operação em Angola. No entanto, não dramatiza. “Para atingir as nossas metas de negócio basta aumentar o número de corridas. Com a nossa resposta ao problema de mobilidade em Luanda, vamos seguramente ter lucros suficientes para garantir que todos saiam sempre a ganhar: o passageiro, que continuará a pagar menos pelas viagens; o motorista, que terá sempre bónus e incentivos e ganhará mais do que noutras aplicações; e as empresas de transporte parceiras, cujos negócios continuarão a evoluir”.
Marcelino e Euclides não estão preocupados com eventuais mudanças. “Mesmo que alterem a política de incentivos e, por exemplo, o bónus baixe para 25 mil kwanzas, se a Yango continuar a retirar a comissão do bónus e nós não o sentirmos, não haverá problema”, garante Marcelino.
A confirmar que estão para durar, vestem a camisola e pensam em alternativas para tornar o negócio mais atraente para os motoristas, como aumentar a meta de 14 corridas diárias necessárias para obter os bónus. Uma proposta que o director-nacional da Yango, Ivan Mujimbo descarta por agora. Por um lado, diz, “actualmente não há muitos motoristas que atingem esse limite”; por outro, “aumentar excessivamente este limite é um risco, porque teremos motoristas bastante cansados a circular só para tentar atingir o bónus, e isso não vai de encontro ao nível de segurança que a empresa exige na operação.”
Euclides entende o ponto e sublinha que “esse tipo de preocupação por motoristas e passageiros” distingue a empresa de outras em que trabalhou. E dá mais um exemplo. “Muitos não sabem, mas a Yango está a trabalhar para que o Estado nos reconheça como trabalhadores, com direito a segurança social e outros benefícios”. Dar aos trabalhadores esta formalidade “é essencial”, indica Ivan Mujimbo. “Actualmente, no nosso país não existe uma lei para arrecadar impostos das pessoas que trabalham em plataformas digitais como a Yango, Instagram ou Facebook, e nós temos experiência nesse campo, já ajudámos governos em várias partes do mundo a aplicar o que chamamos de impostos digitais.” Em Angola, avança, “o Estado já mostrou interesse em regular este sector e tivemos a oportunidade de partilhar o nosso conhecimento nesse domínio com várias instituições”. “Ao haver uma lei que regule esta actividade”, prossegue, “as pessoas que trabalham nas plataformas digitais e pagam esses impostos terão o reconhecimento e a protecção do Estado em matéria de segurança social e outros benefícios, como a possibilidade de pedir créditos bancários, por exemplo”.
Como ser motorista da Yango?
Há várias formas de ser parte da Yango. Os interessados podem-se auto-cadastrar, por exemplo. Para tal, é preciso baixar a aplicação e completar os formulários com os dados requeridos. Outra forma, é através de empresas de transporte locais que gerem a carteira de motoristas e fazem a ponte entre estes e a Yango. São os chamados “parceiros” (a aplicação não lida directamente com os taxistas). Por último, os interessados podem-se aproximar dos agentes da aplicação que estão nas ruas da cidade, reconhecíveis pelas t-shirts da Yango. Estes “scouts” fazem o registo na hora.
No momento do auto-cadastramaneto, os motoristas têm que escolher uma empresa parceira da Yango, que deverão contactar para que o veículo seja inspeccionado fisicamente. Os automóveis da Yango têm que ser, pelo menos, do ano 2000 e cumprir requisitos específicos. Se os motoristas não fizerem esta verificação da unidade, são automaticamente bloqueados da aplicação. Os agentes da Yango podem também recusar o registo de um motorista cujo veículo não conte com as condições exigidas pela empresa.