Fundação reconhecida entre as cinco mais importantes de África estreia espaço com biblioteca pública, dois estúdios para residências artísticas e sala de exposições. Edna Bettencourt, directora, celebra “momento histórico” quatro anos após arranque no Porto de Luanda.
A NESR Art Foundation inaugurou nesta segunda-feira, 3 de Novembro, a sua nova sede na Avenida Marginal de Luanda, num evento exclusivo para convidados que marca uma viragem estrutural na infraestrutura cultural angolana. O espaço, situado num edifício histórico da família Nesr entre a Marginal e a Rua Luís Mota Feo Nº3 1ºAndar, representa o maior upgrade de uma instituição que, em apenas quatro anos, se posicionou como uma das cinco fundações de arte mais importantes do continente africano.
“Definitivamente, este é um momento muito especial para nós.
A Fundação começou em 2021, no Porto de Luanda, num armazém que remodelámos com muita dedicação. Estar hoje num espaço que também tem valor histórico para a família Nesr é extremamente significativo.
Ao olharmos para trás e para o futuro, percebemos o quanto crescemos — enquanto equipa, instituição e missão. Esta inauguração simboliza um novo ciclo: a consolidação daquilo que construímos e a expansão daquilo que ainda queremos alcançar.”
A mudança do Porto de Luanda — onde a fundação operava desde 2021 num armazém remodelado — para a Marginal não é apenas geográfica. É expansão de capacidade operacional que permite à NESR implementar projectos que estavam “há quatro anos em carteira”, segundo Bettencourt.

O novo espaço comporta infraestruturas que a directora classifica como “sem paralelo em Angola”:
Área de residências artísticas:
– Dois quartos (a fundação recebe dois artistas por edição)
– Sala de estar e cozinha totalmente equipada
– Estúdio de trabalho amplo
– Casa de banho privativa
– Privacidade garantida (área separada dos escritórios administrativos)
Biblioteca especializada:
Evolução de “uma estante” para “sala completa”, focada em arte contemporânea africana e estudos culturais, com acesso público prioritário para estudantes, pesquisadores, curadores e artistas. Representa resposta a carência crónica de recursos bibliográficos especializados em Angola.
Sala de exposições:
Espaço dedicado a exposições temporárias, “acessível a toda a gente e rentabilizado”, segundo Bettencourt, que permitirá programação expositiva regular.
Escritórios administrativos:
Sala de reuniões, sala de trabalho, copa — centralizando operações da fundação.
Showroom:
Espaço que “no futuro será loja” para comercialização de produtos desenvolvidos em parceria com artistas e outras instituições.
Terceiro quarto:
Destinado a programa de curadores — em desenvolvimento — para receber curadores e investigadores internacionais interessados no contexto artístico angolano.
Projecto futuro:
Sala reservada para centro educativo, ainda em fase de projecção, para o qual a fundação procura “apoio local”.
Localização estratégica: Acessibilidade como democratização
A escolha da Marginal — artéria central de Luanda, acessível por transporte público e privado — contrasta com o Porto de Luanda, zona industrial de difícil acesso para público geral.
“Será muito mais fácil a comunidade chegar até nós, visitar, conhecer e participar dos nossos programas”, justificou Bettencourt, sublinhando que acessibilidade física é pré-requisito para democratização cultural.
A localização facilita também atracção de parceiros e financiadores — objectivo explícito da mudança. “Vir para este espaço é uma forma de nos reposicionarmos enquanto instituição, abrirmos para potenciais parceiros, apoiantes e financiadores, para crescermos em conjunto. Acreditamos muito na colaboração”, afirmou a directora.

Quatro anos, 22 artistas, reconhecimento continental
Fundada em 2021, a NESR Art Foundation estabeleceu-se rapidamente como referência em residências artísticas na África lusófona, tendo recebido até ao momento 22 artistas de Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe,Moçambique e também, artistas do Gana e África do Sul.
O programa de residências — três edições anuais, dois artistas por edição, duração de dois meses — distingue-se por não obrigar artistas a produzir obras, contrariando lógica mercantil dominante. “É um espaço de experimentação. Os artistas são incentivados a pesquisar, desenvolver projectos, dar um passo atrás e olhar para as suas obras de forma mais perspectivada”, explicou Bettencourt.
Residentes beneficiam de mentoria individualizada com curadores internacionais — diferencial raro em programas africanos — e de apoio logístico completo (estúdio, materiais, alojamento, alimentação).
Em Agosto de 2025, a fundação foi identificada entre as cinco mais importantes de África, distinção que Bettencourt classifica como “inesperada” mas que “coloca responsabilidade” acrescida.
“Com todos os desafios do nosso contexto, temos conseguido fazer as coisas funcionarem. Esta distinção é mais do que reconhecimento — acarreta responsabilidade. Daí a importância de querermos implementar mais coisas, desenvolver programa público e educativo”, afirmou.





