Em entrevista exclusiva ao POC NOTÍCIAS, o Sócio-Gerente da Forvis Mazars in Angola, Paulo Moreira, alertou que actualmente, qualquer investidor, tendo um potencial alvo para investir, quer, em tempo real, perceber como está a saúde financeira da empresa, como está a sua responsabilidade social, que compromissos existem, dentro e fora das DF’s e acima de tudo qual a credibilidade técnica da entidade em causa.
Que avaliação faz dos sectores em que a Forvis Mazars tem prestado serviços?
A Forvis Mazars presta serviços em grande parte dos sectores da economia angolana. Neste contexto os sectores sofrem na sua maioria, o impacto da situação económica do país e dos efeitos financeiros derivados das oscilações cambais e da variação positiva da inflação.
No actual contexto, estes factores são condicionadores da evolução da actividade, da tomada de decisão de novos investimentos e para novos investidores, as incertezas criam igualmente grandes entraves a uma tomada de decisão.
Não temos de momento indicadores sustentados de crescimento da economia e as empresas, que por norma agem com prudência, não tomam muitas decisões de mudança ou de criação de mais serviços adicionais de controlo, com suporte de consultoria, acabando por limitar a nossa margem de manobra.
Por outro lado, pelo facto de existir regulação na nossa actividade e obrigação de certificação de contas a vários níveis, seria de esperar um mercado de procura para esse efeito, o que não é o caso, pois em termos legislativos, as entidades não são obrigadas a entregar com a declaração anual de contas a certificação das mesmas, o que origina que muitas das empresas que estão obrigadas a esse quesito, não cumpram com o mesmo, retirando do lado da procura uma grande fatia do principal negócio, a certificação de contas.
Pela experiência que têm de mercado, onde é que as empresas angolanas devem melhorar no capítulo da contabilidade? Ainda estão com muitas deficiências?
Relativamente a este aspecto, de facto em Angola as empresas continuam em grande parte a fazer contabilidade para o fisco, i.e., a preparar contas para apresentar um fecho anual à AGT, e por consequência, com timings completamente desfasados da realidade necessária para a gestão da empresa no seu dia a dia, e que passam seguramente por não ajudar na gestão e na tomada de decisão, numa economia em que as variáveis são necessariamente de monotorização constante, e de ajustamento.
Por ouro lado as novas dinâmicas fiscais, IVA, alterações legislação laboral e de reporte internacional, obrigam a uma constante necessidade de actualização da formação e a uma abordagem diferente, no que diz respeito à preparação e à análise dos elementos contabilísticos e de suporte à gestão.
Na nossa actividade deparamo-nos por diversas vezes com deficiências técnicas, que em muitos casos originam riscos adicionais para as organizações e em muitos casos que implicam penalizações eminentes por parte da autoridade tributária, o que contraria um pouco o pressuposto da utilização de técnicos especializados na área da contabilidade, pois nem sempre estes estão apetrechados e actualizados para o efeito.
Se pode dizer o mesmo no capítulo da auditoria? Porquê?
A Forvis Mazars é uma das muitas empresas em Angola a prestar serviços de auditoria, e em grande parte estes serviços são prestados por entidades multinacionais, o que é o nosso caso, e que aplicam em Angola, as mesmas regras de exigência e de qualidade que assumem noutros países.
Por esse facto temos uma abordagem que permite assegurar uma cobertura de grande parte dos riscos, ajudando na tomada de consciência dos riscos existentes e das necessidades adicionais de mudança, quer de atitude no que diz respeito à contabilidade enquanto ferramenta de gestão ou de salvaguarda do património (minimização de risco).
Até que ponto essa deficiência afecta o negócio e o próprio mercado?
Como disse anteriormente a falta qualidade da informação contabilística, quer numa prespectiva de informação quer na perspectiva temporal, condiciona quer todo o processo de certificação, quer, por sua vez, a capacidade de se tomarem decisões e opções, quer de investimento, quer operacionais.
Actualmente, qualquer investidor, tendo um potencial alvo para investir, quer, em tempo real, perceber como está a saúde financeira da empresa, como está a sua responsabilidade social, que compromissos existem, dentro e fora das DF’s e acima de tudo qual a credibilidade técnica da entidade em causa.
Sem estes factores devidamente clarificados e quantificados, dificilmente um investidor decidirá investir. Talvez não seja por acaso que, quer o programa de venda de activos por parte do IGAPE, quer a negociação em bolsa, têm tido, respectivamente, um sucesso reduzido e em alguns casos sem grande visibilidade do destino que vai ter a entidade vendida, e a fraca adesão de empresas à entrada em bolsa para assim conseguirem captar financiamento.
O processo relacionado com a qualidade e consistência da informação, precisa de estar solidamente sustentado e tecnicamente imaculado. Sem isso será difícil.
Temos de mais uma vez reforçar e mencionar o papel que os reguladores e ordens profissionais poderão vir a ter neste processo de melhoria qualitativa da produção, entrega e utilização da informação, melhorando tornando mais efectivo o seu desempenho, situação que se espera possa vir a ser uma realidade a muito curto prazo.
Tem alguma opinião sobre o ambiente de negócios actual em Angola?
Neste momento Angola atravessa um momento desafiante e que condiciona de certa forma o ambiente de negócios existente, nomeadamente com a falta de liquidez da banca e do Estado, que condiciona de certa forma o acesso ao crédito, da falta de divisas no país, o que numa economia ainda muito dependente das importações dificulta o planeamento e a tomada de decisões por parte das entidades que actuam em Angola, bem como da capacidade do Estado tomar a decisão de investimentos estruturais sem agravar mais os indicadores de endividamento que acarretam dificuldades a médio e longo prazo, a somar às que já existem para liquidar dívidas assumidas no passado e que estão a condicionar de certa forma a apresentação de medidas estruturantes e impactantes na economia.
Uma nota final sobre a crise e oportunidades
Perante o quadro pouco animador de alguns aspectos socioeconómicos do país devem imperar a lucidez e a vontade para transformar a crise em oportunidades. Oportunidade para repensar os hábitos de gestão das empresas. Oportunidade para agir politicamente incluindo as autoridades reguladoras no sentido de restabelecer a confiança nos investidores e consumidores. Oportunidade para pensar e planear a formação da nossa juventude, a maior riqueza do País. Oportunidade para sanear, dinamizar e modernizar o sistema financeiro do País, pouco apetrechado, para responder às necessidades do crescimento económico.
O diagnóstico estando feito, os males identificados, impõem-se ações concretas, planeadas a curto, médio e longo prazo. Neste contexto a Forvis Mazars e empresas similares terão ou teriam, como em outros países, um papel de relevo de suporte e actuação nas várias acções correctivas e planos de desenvolvimento.
Da nossa parte estamos disponíveis a ajudar neste processo e a criar uma realidade que possa trazer num futuro próximo alguma dinâmica e capacidade a um país que tem tudo para estar a ombrear com outros grandes países, não ficando em nada a dever a estes.
Depois da anunciada união das duas marcas em Junho, qual é o balanço dos dois meses como Forvis Mazars in Angola?
Estes dois meses têm sido de intensa comunicação com os nossos clientes, colaboradores e os media, no sentido de apresentar para cada destinatário o projecto que foi definido e os seus pressupostos. O mercado tem tido uma reacção bastante positiva e a visibilidade da nova marca criou diversas dinâmicas e contactos em novos sectores de actividade para a nossa organização.
Já internamente, e no que diz respeito ao nosso trabalho, os nossos colaboradores têm sido fantásticos na abordagem à nova realidade e o entendimento do projecto e os objectivos a que nos propusemos estão a ser bem assimilados e a entrega tem sido total, no sentido de divulgar e potenciar a nova marca.
O que mudou no funcionamento da empresa em Angola, no atendimento ao cliente, nos serviços e nos desafios do mercado nacional?
No que diz respeito à nossa relação com os clientes, nada vai mudar, pois a continuidade da empresa está assegurada e sem mudanças de processos e de recursos. A única mudança é mesmo a de escala e acesso a recursos adicionais para outras linhas de serviços que em Angola não estávamos a desenvolver.
Daqui por diante qual é a perspectiva de crescimento da empresa em Angola?
A expectativa é a de que com a globalização da nossa oferta, clientes mundiais que estavam a ser trabalhados pelo parceiro Forvis nos EUA, e que tenham operações em Angola passem a fazer parte do nosso portfólio. De igual modo, a abordagem a novas linhas de serviço e áreas em que não estávamos a trabalhar até ao momento, casos da consultoria nas áreas de Cyber segurança e Controlo de Gestão, bem como consultoria para financial services, irão seguramente trazer novas oportunidades e criar uma dinâmica de crescimento.
Que desafios estão pela frente?
Este momento é de facto um momento desafiante e que irá obrigar os nossos colaboradores a terem um comprometimento com o projecto, na sua plena extensão, idêntico ao que tiveram até ao momento, ou ainda com mais empenho, pois temos de assegurar ao grupo o compromisso de responder segundo os objectivos globais da empresa que são:
- Garantia de Qualidade nos trabalhos executados
- Criar nos nossos clientes um ambiente de segurança e de sustentabilidade a todos os níveis
- Garantir aos nossos colaboradores uma visão de sustentabilidade e de compliance
- Respeito pela lei e cultura local
- Visão com cobertura global para entendimento e tratamento local
Que investimento a empresa pretende fazer ainda este ano para reforçar a presença no mercado angolano?
Neste momento o investimento será no reforço da estrutura técnica, e na garantia de continuidade da formação dos quadros angolanos, nossos e dos nossos clientes.
A Forvis Mazars esteve na FILDA 2024! Que novidades levou a esta bolsa de negócios?
A Forvis Mazars esteve na FILDA, para divulgar essencialmente a alteração que ocorreu em Junho de 2024, que foi a junção de 2 entidades, a Mazars e a Forvis, muna só empresa, que, por esse facto, entrou para o TOP 10 no mundo da consultoria, e que permite uma abordagem ao mercado, com cobertura global, mas com conhecimento local.
Esta mudança permitiu igualmente passar a ter aceso a outros serviços, o que foi também apresentado durante o evento da FILDA, nomeadamente uma aplicação de gestão de dados desenvolvida por nós, para os sectores de actividade da BANCA, do PETRÓLEO e da INDUSTRIA MINEIRA, e que permite, através da análise da informação transversal existente na empresa, verificar, analisar, optimizar e utilizar para tomada de decisão, utilizando indicadores de gestão específicos para a actividade e/ou definidos pela própria entidade, com comparação de dados, benchmarking, e acima de tudo em tempo real. Numa outra vertente e mais ligado ao sector de gestão e segurança de dados, cyber segurança, apresentamos a nossa funcionalidade de certificação de sistemas de segurança.
Somos a única entidade em Angola que para além de apoiar na tomada de decisão sobre sistemas de segurança, está devidamente preparada, no seu centro de excelência de cyber segurança do grupo, para testar, monitorizar, apoiar nas medidas de mitigação de risco encontradas, mas acima de tudo para no final emitir certificação do sistema de segurança da entidade.
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