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Após a eliminação do ‘Big Brother Brasil’, o carioca Lucas Henrique fala com orgulho de ter sido um dos grandes movimentadores do jogo e não esconde que gostava do papel de criador de estratégias. Preferiu criar laços fortes, como os que teve com Leidy Elin, Yasmin Brunet e Wanessa Camargo, a escolher representar um lado entre os dois maiores grupos da edição; não hesitou a aproximação com participantes como forma de escapar do paredão; e, superando até mesmo as próximas expectativas, venceu cinco provas de liderança da edição.
O resultado, apesar de render a permanência no jogo por 93 dos 100 dias que terão esta temporada, não bastou para que Lucas chegasse à final, mas deixou para ele legados muito maiores que o jogo. “Aprendi com o ‘Big Brother Brasil’ a olhar para mim com mais cuidado e entender que, apesar dos meus defeitos, eu também tenho qualidades”, afirma o professor de Educação Física, que foi eliminado com 64,69% no paredão contra Alane e Isabelle.
Na entrevista a seguir, Lucas também reflecte sobre a rivalidade com Davi, comenta a situação do “Calabreso” que acabou virando “meme” e aponta sua torcida para o primeiro lugar do “reality show”.
Qual era o seu maior propósito ao entrar no ‘Big Brother Brasil’?
Meu maior propósito era mostrar para os meus alunos da favela que eles podiam acreditar nos sonhos deles e realizá-los. E queria que eles tivessem orgulho de mim. Ainda não tive acesso a eles, mas, pelo que tenho visto, muitas pessoas gostaram muito do que eu levei para o BBB.
Você optou por dormir no quarto Fadas, mas não formou uma aliança com seus integrantes, excepto com a Leidy Elin, que foi uma amiga na casa. Também não se juntou ao Gnomos, em um primeiro momento. Acredita que o facto de não formar um grupo já nas primeiras semanas pode ter impactado o seu jogo?
Formar um grupo nas primeiras semanas, para mim, era muito complicado. Eu queria conhecer as pessoas. Como eu já tinha um acesso um pouco mais fácil no Gnomos, eu queria dormir no Fadas para tentar me aproximar daquelas pessoas e, aí, escolher com quem ia jogar. Tanto que a minha amizade com a Leidy começou de uma conversa dentro do quarto. Então, foi positivo. Mudaria tudo se eu tivesse fechado com um grupo ou com o outro, mas eu acho que foi do jeito que tinha que acontecer.
Mais ou menos no meio da temporada, houve um terceiro grupo, formado por você, Leidy Elin, Yasmin Brunet e Wanessa Camargo, que foi nomeado por vocês como “Alphavela”. Na sua visão, o que gerou essa conexão?
Eu e Leidy já tínhamos uma amizade muito forte e um carinho muito grande um pelo outro. E como eu ia dormir muito tarde e a Wanessa Camargo também, a gente acabou conversando muito de madrugada e isso foi nos aproximando cada vez mais. Por consequência, aproximou a Yasmin também, por ela estar próxima da Wanessa. A gente acabou formando um grupo que se construiu a partir da afinidade (,) das nossas conversas.
Embora tenha hesitado no início, por fim, você acabou dividindo algumas estratégias e votado em combinação com integrantes do Gnomos. Com que participantes de lá você mais tinha afinidade?
Dentro do jogo tinha muito mais afinidade com a Leidy. Ela sempre foi o meu pódio. No primeiro “Sincerão”, o Tadeu Schmidt perguntou quem era o meu pódio e eu disse que era a Leidy em segundo lugar e o Vinicius Rodrigues em terceiro. O Vini, o Bin [MC Bin Laden] e o Luigi [Lucas Luigi] eram do Gnomos. Então eu tinha um carinho muito grande pelas pessoas do Gnomos, apesar de a gente ainda ter algumas ressalvas. Num primeiro momento, eu não tinha muito acesso à Fernanda, à Pitel, ao Juninho, mas já tinha uma parceria com esses três, que eram de lá. Acabou ficando mais fácil jogar com eles do que com o Fadas, com quem eu realmente não tinha afinidade.
Sua aproximação com Pitel aconteceu logo após a saída do Rodriguinho. Esse movimento foi uma estratégia de jogo?
Esse movimento começou a partir dos nossos interesses em comum. Quando eu descobri que ela gostava dos mesmos artistas que eu e acessava os mesmos conteúdos que eu acessava na internet, nós começámos a conversar muito. No dia que estávamos a falar sobre faculdade, ela falou que queria fazer uma pós-graduação, e foi o dia da acção da Estácio. Eu chamei ela para fazer parte do meu grupo na acção e, a partir dali, começámos a trocar mais ideias. Então, já existia uma conversa. Mas quando, em determinado momento, eu vi que eu era uma opção de voto dos Gnomos, comecei a pensar que era necessário aproximar-me do grupo para, pelo menos, ter alguém para me vetar. Eu sabia que o Rodriguinho não votava tanto em mim, e a Pitel poderia ser essa pessoa também. Pensei: “Se eu tivesse duas pessoas lá que vetassem o meu nome de um possível voto em conjunto, eu poderia safar-me do paredão”. Começa a partir daí a nossa proximidade, que nasce de uma afinidade por conta de assuntos em comum mas, também, por uma estratégia de jogo.
Nós tivemos uma troca muito boa, fomos muito amigos e nos apoiámos bastante lá dentro. E não passou disso. Nos meus momentos mais difíceis ela estava lá, o inverso também, eu sempre estava ali para apoiá-la. É muito difícil passar 93 dias (no meu caso) confinado, você precisa de pessoas do seu lado. E nós nos aliámos por isso. Querendo ou não, quando falámos de coisas da vida para além do jogo, que era o que acontecia, saíamos um pouquinho da pressão psicológica que era fazer as escolhas do jogo.
Você igualou o recorde de vitórias do BBB em provas do líder com cinco provas vencidas. Imaginava performar tão bem na competição justamente nas provas?
Isso foi uma grata surpresa! Eu tinha muito medo porque, geralmente, nas provas de resistência as pessoas mais fortes vencem, e eu não tenho o físico padrão. Pensei: “Vai ser a maior dureza encarar essas provas”. Mas fui até ao fim, dei o meu máximo e sempre estive atento às instruções para fazer o meu melhor. Deu certo, que bom! Consegui ganhar muitas provas e movimentar o jogo. Quando você ganha um líder ou um anjo, você se compromete com o jogo e fica em evidência. É uma faca de dois gumes: por um lado é bom porque você fica imune. Por outro, movimentando a casa e o jogo, vira alvo. Você precisa de jogar também quando sai da condição de líder; é aí que está o jogo que acontece de verdade, porque é necessário se movimentar para sair do alvo das pessoas.
Qual liderança mais te marcou e porquê?
A terceira, em que eu tive minha segunda festa do líder. Foi a festa que teve Jongo da Serrinha e pude olhar minha favela, a comunidade em que cresci ali sendo representada, a minha cultura do dia a dia, os lugares pelos quais eu costumo passar, onde eu me sinto em casa. Foi realmente muito especial. A terceira liderança também foi a mais estratégica por conta da minha indicação do Michel ao paredão, que foi fora do padrão. Eu saí um pouco daquele lance de colocar Gnomos ou Fadas, fui pela terceira via e o Michel acabou saindo do jogo. Eu tinha motivos porque ele já tinha votado em mim e já me tinha indicado ao paredão. Então, eu devolvi e acabei acertando.
Nas enquetes do líder, você costumava receber o sinal de “alerta” como “feedback” do público na ‘Central do Líder’. Como você interpretava essas avaliações?
Eu pensava que talvez estivesse jogando do lado errado da galera preferida do público. Mas não tem como fugir do que nós sentimos, das coisas que já nos propusemos a fazer. Às vezes um movimento 180 grau não cabe porque pode enrolar mais as coisas e não dar certo. Então, apesar de interpretar isso como o facto de que eu precisava me reposicionar no jogo, ainda assim não cabia um movimento muito brusco no jogo porque podia acabar piorando as coisas, ao invés de ajudar.
Você teve diversos embates com o Davi durante a temporada. Um deles ficou marcado pela expressão “calabreso”, com a qual o Davi se referiu a você. Isso gerou uma grande confusão na casa sobre o significado da palavra, porém, você demonstrou em outros momentos entender sobre a origem do termo. Por que optou por não deixar isso claro ali naquela situação da briga?
Eu cheguei a comentar que era uma gíria da internet. Eu não me senti ofendido em relação a essa gíria, apesar disso. Mas o Bin falou que, em São Paulo, as pessoas usavam essa gíria para falar que ele era gordo. Eu pensei: “No Rio isso não acontece”. Mas, se ele sentia isso e era usado para ele nesse intuito, eu não tinha muito o que discordar porque era uma coisa direccionada a ele. Por isso não entrei em detalhes nem quis desconstruir porque não queria invalidar o que ele estava sentindo, já que foi ele que passou por isso.
Via Davi como seu maior adversário?
Sim. Eu acho que nós os dois somos muito parecidos em algumas coisas: na questão da liderança e no posicionamento firme. Isso podia colocar-nos como aliados, e nós iriamos jogar muito bem juntos, mas também podia colocar-nos como adversários. No primeiro momento, quando as pessoas conversavam para tentarem se unir no Puxadinho para se proteger, não dá certo. Eu vejo que ele tenta puxar a liderança do grupo e falo: “Não, também posso ser essa pessoa que vai organizar as estratégias”. As pessoas começam a entrar em embate e uma coisa vai puxando a outra. No BBB nem sempre as pessoas resolvem todas as situações porque faz parte ter coisas a pontuar nas dinâmicas do jogo.
Que brothers e sisters da sua edição deseja reencontrar e manter uma amizade aqui fora?
Quero muito reencontrar-me com a Leidy Elin; foi uma pessoa que me deu muita força, muita luz. O Bin, a Giovanna e a Yasmin também são pessoas que quero muito reencontrar, ter uma parceria, fazer uma amizade aqui fora para caminharmos juntos e apoiarmo-nos. O Luigi [Lucas Luigi] e o Vini [Vinicius Rodrigues] também. E uma pessoa com quem quero muito desenvolver a amizade aqui fora é a Isabelle. Apesar de a gente ter sido adversário no jogo, a gente se conectava em muitos assuntos. Poderíamos ter resolvido lá algumas coisas, mas não quisemos para poder ter a carta na manga e jogar, mas é alguém a quem quero muito bem aqui fora.
O que faltou para chegar à final, mesmo tão perto, em sua opinião?
Acho que faltou estar do lado certo, né? (risos). As brigas que eu escolhi não foram as melhores, mas, ainda assim, eu tinha a esperança de que o facto de me movimentar em relação ao jogo fosse ajudar-me a chegar mais longe. Eu contava muito que, chegando ao top 5, eu poderia ganhar as duas próximas provas e alcançar a final. Foi quase.
Que momentos da sua trajectória no “reality” ficarão marcados em sua memória?
As festas do líder vão ficar muito marcadas porque foram momentos em que eu me reconectei comigo mesmo, que lembrei das coisas que eu gosto, amo e me dão força.
E leva aprendizados?
Se eu pudesse citar um aprendizado do programa, seria conseguir ser mais calmo para tomar decisões. As decisões precisam de mais paciência. Outro aprendizado é o de me conhecer e saber qual é o meu limite. Eu nunca imaginei que ia passar por tanto estresse com um jogo! Aprendi com o ‘Big Brother Brasil’ a olhar para mim com mais cuidado e entender que, apesar dos meus defeitos, eu também tenho qualidades.
Quem você quer que ganhe?
A Isabelle. Sei que ela se movimentou pouco em relação ao jogo, mas de todos os que ficaram, é a pessoa pela qual tenho mais carinho e por quem eu torceria agora.
Agora que deixou a disputa, quais são seus objectivos? Pretende voltar a dar aulas e seguir na carreira acadêmica?
Eu vou analisar um pouco tudo que vai acontecer. A minha prioridade é cuidar da minha família, da minha irmã, que está precisando muito de mim. Quero retribuir o carinho que eles sempre tiveram por mim ao longo de toda a minha vida. Depois, pensar no que pode acontecer, e ver as oportunidades que vão chegar.