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Luanda – “Olhar do Outro”, a exposição recém-inaugurada na galeria Jahmek Contemporay Art, dá continuidade ao trabalho de resgate e sobreposição gráfica e simbólica de Délio Jasse. O diálogo visual entre a memória e fotografia de Délio Jasse interpreta, em “Olhar do Outro”, a tensão permanente entre o nosso passado colonial e a actualidade.
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Na exposição que inaugurou recentemente na Jahmek Contemporay Art, o fotógrafo e arquivista angolano mostra como papéis e imagens antigos têm ainda tanto a dizer sobre nós.
Nesta mostra, o artista nascido em Luanda, em 1980, tomou de novo nas mãos fotografias, postais, documentos oficiais, telegramas e selos impressos em tecido, tela e cartão e despenteou-os com técnicas de impressão experimentais para nos pôr a pensar. “Esta é a minha história da mentira que nos é contada”, declara o artista, que tenta desvendar, para além do cariz político inerente ao material exposto, “de que forma a relação da sociedade angolana com a auto-imagem evoluiu desde então, em termos de transparência, produção e reflexão”, descreve Gisela Casimiro no texto de apresentação de “Olhar do Outro”.
A imagem e a memória de sociedades africanas coloniais, como Angola ou Moçambique, são o ponto de partida de grande parte do trabalho de Délio Jasse. O artista, que vive há vários anos entre Lisboa e Milão, usa arquivos fotográficos da época colonial (próprios, doados ou que vai encontrando nas suas andanças) e transforma-os, mostrando as contradições desses mundos com os quais ainda vivemos lado-a-lado, em muitos sentidos.
É assim que álbuns de família ou fotos tipo passe se convertem em mesas de debate visual entre o passado e o presente, mostrando as suas desarmonias. Em entrevista à revista Apertura, em 2017, refere, como exemplo, a exposição “O Capítulo Perdido: Nampula 1963” (Tiwani Contemporary, Londres, 2016). “Encontrei o arquivo de Nampula na Feira da Ladra, em Lisboa. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a fotografia onde estão algumas mulheres num automóvel. Remeteu-me para um certo tipo de riqueza e para um período histórico específico. Só quando vi a parte de trás é que me apercebi que tinha sido tirada em Moçambique, em 1963. Nesse caso, interessou-me o contraste entre a foto em si e o lugar na qual foi captada”.
Para potencializar este encontro/debate entre tempos numa África pós-colonial, Délio Jasse usa técnicas de impressão fotográfica analógica como a cianotipia, que dá o azulado característico de muitas das suas obras, ou a platina. A sobreposição de selos ou elementos gráficos inesperados é um recurso constante, que dá à obra de Délio Jasse um simbolismo e significância especiais.
Esta personalidade experimental que mistura técnicas e discursos faz de Délio Jasse um dos artistas angolanos mais conhecidos internacionalmente. Nos últimos 15 anos, participou em inúmeras exposições individuais e colectivas em Angola, África do Sul, Mali, Itália, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, França, China, Brasil e Estados Unidos.
O carácter único da sua obra foi reconhecido com os prémios Anteciparte (Portugal, 2009) e Iwalewa Art (Alemanha, 2015), para além da nomeação para os prémios BES Foto (Portugal, 2014) e Pomilio Blumm (Itália, 2016).
Várias criações de Délio Jasse integram colecções de arte importante como a Colecção Sindika Dokolo (Angola), Museu Kiscell (Hungria), Fundação Blachere (França), BES Arte e Finança e Fundação PLMJ (Portugal), entre outras.
A exposição “Olhar do Outro” tem o apoio da cerveja Tigra e está patente na galeria Jahmek Contemporary Art até 22 de Setembro e pode ser visitada de Terça a Sexta-Feira, das 12h00 às 19h00, e no sábado, das 10h00 às 18h00, na Jahmek Contemporary Art, localizada na Rua Rainha Ginga, nº100, Hotel Globo, 1º andar, Ingombota, Luanda.