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Residente em Londres desde 2014, a angolana Sandra Poulson foi umas das artistas escolhidas para representar o Reino Unido na 18ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza 2023, que decorre de 20 de Maio a 26 de Novembro. O tema representado no pavilhão inglês, “Dancing Before the Moon”, foca-se na forma como as práticas tradicionais das comunidades da diáspora do Reino Unido são ignoradas no planeamento do ambiente construído, enquanto celebra os espaços criados por estas práticas culturais e como as mesmas podem apresentar novas formas de pensar a arquitetura.
A sua instalação, “Sabão Azul e Água”, explora os rituais de limpeza que a artista observou enquanto crescia em Luanda. É composta por quatro objectos: um tanque de cimento, uma série de balaústres da era colonial, um vestido tradicional angolano e algumas pegadas, cada uma feita de tecido. Tudo coberto com sabão azul, muito utilizado em Angola.
“A minha bisavó era lavadeira, lavava roupa como forma de trabalho. A instalação reconhece esse trabalho e a presença dos objectos utilizados, os balaústres, o tanque de cimento, etc… De certa forma, o trabalho tenta fazer perceber que as práticas de limpeza estão realmente muito presentes no quotidiano. Os diferentes objectos são quase testemunhos da ocupação colonial de Portugal sobre Angola, numa espécie de linha do tempo e da relação que as pessoas têm com os objectos, e de como esses objectos reflectem os próprios meios de subsistência”, confessa a artista.
“Sinto-me honrada pelo convite, pois representa um reconhecimento da minha arte, partilhando a honra com o meu país, Angola, e o interesse que possa despertar a todos os visitantes”
Sandra Poulson é uma artista interdisciplinar. O seu trabalho discute a paisagem política, cultural e socioeconómica de Angola como uma forma de estudo que analisa a relação entre história, tradição oral e estruturas políticas globais, utilizando abordagens Auto etnográficas e arqueológicas para questionar e desvendar “redes de existência” e compreender a dinâmica do “inabitável como metodologia”.
Nos seus trabalhos utiliza a família e a memória social herdada da Angola colonial e da guerra civil para desmontar a Angola contemporânea através de estudos semióticos de objectos (culturais) comuns, como os utensílios domésticos.
Nascida em Luanda, mudou-se para Portugal em 2013, onde estudou Design de Moda na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Depois disso viajou até Londres, em 2014, tendo ingressado no London College of Fashion, concluindo um bacharelato em Fashion Print na Central Saint Martins.