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Luanda – Pela primeira vez juntos num livro de poesia, os escritores angolanos Manuel Rui e Ondjaki, publicaram o livro “Poemas com cacimbo e pássaros”, uma obra que nasce da reunião de poemas de ambos os autores.
O livro “Poemas com cacimbo e pássaros” foi apresentado hoje, 10 de Fevereiro, em Luanda, na livraria Kiela, pela editora Kacimbo. O livro é resultado de um diálogo poético entre Manuel Rui e Ondjaki, que teve início em 2007 e foi concluído em fins de 2022.
Na obra que a Kacimbo traz agora ao público, dois dos escritores mais representativos das suas gerações poetizam a vida, em versos como: “onde há dor, há pele / e haverá o depois da chuva. / deixa plantado no sonho / o que sobra dos dias / em que foste / o melhor de ti.” Ou ainda: “Só queria conhecer outros cacimbos / onde os pássaros ensinassem os homens / a serena serenidade de adormecer.”
Segundo a professora brasileira Andrea Muraro, “migrar entre os poemas de Manuel Rui e Ondjaki, é ler a memória de quinze cacimbos, sem ver o tempo passar, mas sentindo a leveza do voo, o canto dos pássaros e ‘os sentidos do orvalho’.” “Em tempos de cartas que andam nas nuvens. Dois passarinhos bebem orvalho fresco, enquanto de versos fazem ninhos. (…) Em tempos de cartas que andam nas nuvens, com pressa, poemas feitos de cacimbos e de pássaros podem ser estranhos no ninho. Só que a poesia encontra uma brecha no tempo, sempre”, sublinha a académica.
Manuel Rui Monteiro nasceu no Huambo, a 4 de Novembro de 1941. Licenciado em Direito, em Coimbra, foi ministro no governo de transição, em 1975, integrando a representação de Angola em organismos internacionais como a OUA e a ONU.
É poeta, contista, dramaturgo, romancista e cronista, com uma obra extensa que alterna entre ficção e poesia. Escreveu as palavras do Hino Nacional de Angola e letras de canções. Participou em filmes, como figurante e declamando poemas, mas também escrevendo diálogos. Do espanhol ao mandarim, os seus livros estão traduzidos em mais de doze línguas. Publicou, em 1977, “Sim Camarada!”, o primeiro livro de ficção angolana pós-independência. “Quem Me Dera Ser Onda” converteu-se num clássico da literatura escrita em português. Em 2003, renunciou ao Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola.
Ondjaki nasceu em Luanda, em 1977. É doutorado em Estudos Africanos (L’Orientale, Napoli/Itália). Prosador e poeta, também escreve para cinema. É membro da União dos Escritores Angolanos. Recebeu os prémios Sagrada Esperança (Angola, 2004); Conto – A.P.E. (Portugal, 2007); FNLIJ (Brasil, 2010 & 2014); JABUTI juvenil (Brasil, 2010); prémio José Saramago (Portugal, 2013) e prémio Littérature-Monde (França, 2016) com o livro “Os Transparentes”. Está traduzido para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio e sueco. Ocasionalmente, é professor de escrita criativa. Em 2023 (Évora, Portugal), recebeu o prémio Literário Vergílio Ferreira pelo conjunto da sua obra.