Calendário do IGAPE prevê que as duas entidades que têm na sua estrutura societária 100% de fundos públicos deixam de hastear essa bandeira já no próximo mês, ao abrigo da estratégia governamental de saída do Estado na economia. Se para o Governo a notícia é boa, para os trabalhadores a medida pode implicar ‘limpeza’ no quadro de pessoal.
POC Notícias: Moisés Tchipalavela
(moises.tchipalavela@pocntocias.ao)
Foto: D.R
O Banco de Comércio e Indústria (BCI) e a Empresa Nacional de Seguros de Angola (ENSA) deixam de poder contar já, no próximo mês de Dezembro, com a participação do Estado nos seus capitais sociais, de acordo com uma previsão do Instituto de Gestão e Participações do Estado (IGAPE), anunciado pelo seu chairman, Patrício Bicudo Vilar.
A venda das posições do Estado nas duas entidades em referência está enquadrada na estratégia governamental de retirada do dinheiro público em negócios ou participações sociais em empresas, cumprindo, assim, um despacho aprovado pelo Presidente da República, João Lourenço, em Maio do ano passado, que definiu 195 empresas públicas para privatizar até ao próximo ano.
“A privatização do BCI e da ENSA, cujo processos começaram há cerca de 2 anos, estão na fase final, com uma previsão de conclusão até Dezembro do ano em curso”, disse Patrício Vilar, citado em nota divulgada no portal oficial do Ministério das Finanças, órgão que tutela o IGAPE.
Já na semana passada, e para fazer cumprir a meta do Governo de se desfazer desses dois novos negócios, o próprio IGAPE distribuiu uma nota a que o POC Notícias teve acesso, dando conta de que o banco dirigido por Zenaida Zumbi já tinha colocado as suas acções junto da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), para se seguir a alienação.
“A privatização do BCI e da ENSA, cujo processos começaram há cerca de 2 anos, estão na fase final, com uma previsão de conclusão até Dezembro do ano em curso”
Segundo o IGAPE, o processo de entrada das acções na BODIVA antecede o culminar do processo de privatização do BCI, isto é, via leilão electrónico com recurso a uma plataforma desenvolvida por aquele órgão financeiro angolano, com vista a descoberta do vencedor e preço, garantindo assim maior transparência.
No mês em que se prevê o fecho de todo o processo de privatização, também está já previsto a realização de um leilão, mecanismo que se seguirá tão logo o IGAPE, enquanto representante do emitente/Estado, submeta o pedido de realização do mesmo.
À semelhança do BCI, está também na fase final o processo de privatização da ENSA, entidade que controla o sector segurador do país, em termos de volume de negócio, quota de mercado e até carteira de clientes.
Se para o Governo e analistas é um ganho a saída do Estado na economia, para os colaboradores destas empresas o quadro pode não significar o mesmo. O POC Notícias apurou de ambas empresas que há já trabalhadores que receiam pelos seus postos de trabalhos, dado que, com a saída do Estado no negócio, as empresas ganham novos donos e consequentemente novas estratégias.
É daí que surgem os gritos de socorro de alguns profissionais do BCI e ENSA. Ao POC Notícias, um quadro da ENSA afecto ao departamento/direcção de património conta que já circula, em meios restritos da empresa, conversas no sentido do enxugamento de pessoal não essencial, ou extinção de áreas que não são o core-business daquela seguradora.
O pavor estende-se até ao BCI, cujos quadros temem pela redução de pessoal, num processo similar ao que está em curso no congénere Banco de Poupança e Crédito (BPC), que não para de mandar profissionais para casa.
Processo ainda é longo e leva vários
O BCI e ENSA não são as únicas entidades nesse processo. Segundo o presidente do IGAPE, o programa de privatizações já alienou mais de 40 activos anteriormente detidos pelo Estado ou os constituídos com dinheiro público. “Já foram privatizados 41 activos, num valor equivalente a oitocentos e trezentos mil milhões de kwanzas, metade dos quais já recebido, o remanescente equivale a pagamento diferido e valores ainda não pagos, que se referem a empresas com pagamentos a longo prazo, como as fábricas têxteis e as fazendas privatizadas”, contabilizou o gestor.
